3.3.06

A onda antiintelectual

A imagem “http://www.feirabienaldolivro.com.br/feirabienaldolivro/imagem/boletim/boletim_BIE18_39.jpg” contém erros e não pode ser exibida.Por que o PT odeia tanto o PSDB se ambos têm o mesmo ideário e adotam os mesmos programas? Por que Lula fala mal de intelectuais, sociólogos, filósofos, antropólogos, historiadores, economistas e jornalistas, justamente aqueles que lhe deram apoio total?
Quando Lula critica as elites, ele se refere à elite intelectual, não à elite empreendedora que no fundo ele admira. Quanto mais o PSDB batia na tecla que Lula não tinha diploma, mais ele subia nas pesquisas eleitorais.
Tudo isto são sintomas de um perigoso antiintelectualismo que cresce na América Latina. A eleição de Hugo Chavez e Ivo Morales mostra o mesmo fenômeno.
O povo latino-americano se cansou do silêncio, da soberba incompetência da sua elite intelectual.
Na China, os intelectuais foram ativamente perseguidos durante a famosa Revolução Cultural. As universidades permaneceram fechadas por praticamente dez anos, para o desespero deles. Hoje, o povo chinês acredita que foi justamente isto que colocou o país no eixo.
"Os intelectuais foram obrigados a fazer algo que nunca fizeram, a trabalhar no campo como nós", disse-me um porteiro de um hotel em Beijing. "Os líderes de hoje são justamente aqueles que por dez anos não foram educados por intelectuais", disse nosso taxista em Xangai. O que dirão quando não houver censura na China?
A história do mundo está repleta de “revoltas das massas”, queimando livros e intelectuais. Nos Estados Unidos, a intelligentsia é extremamente mal vista, razão do ódio generalizado dos intelectuais aos Estados Unidos, país conhecido pela sua visão em prol do pragmatismo e não da teoria.
Fernando Henrique Cardoso era definido pela mídia e pelo próprio PSDB como o primeiro intelectual a ser eleito presidente do Brasil, uma visão elitista e uma descortesia aos ex-presidentes deste país. Todo ser humano, por mais humilde que seja, tem de usar o seu intelecto para desempenhar sua função, desde o porteiro do prédio até o mestre de chão de fábrica.
A classe média, que raramente foi ouvida no governo anterior, votou maciçamente no PT em 2002. O Partido das “Diretas Já” escolherá seu candidato consultando suas bases ou sua elite intelectual? Manterão sua tradição escolhendo o intelectual mais preparado ou mudarão sua imagem escolhendo um “com-diploma” como Aécio Neves ou Geraldo Alckmin, mas que não fazem parte da intelligentsia nacional? A eleição de 2006 não será sobre quem roubou e quem não roubou, como quer o PSDB, mas um embate entre a voz do povo e a visão do intelectual. Quem tem a visão correta do mundo?
Desde 2004 já existe um racha declarado no PSDB entre "os que trabalham e os que escrevem artigos de jornal", dito pelo seu mais destacado governador.
Em vez de medir as chances ou a taxa de rejeição dos dois candidatos, por que não medem a taxa de rejeição ao intelectualismo em geral e confirmam ou não esta mudança de sentimento popular?
A América Latina não está dando uma guinada para esquerda, como temem alguns, é uma perigosa guinada contra a intelligentsia nacional, justamente o contrário.
Tanto é que os investidores internacionais já perceberam isto, e o risco Brasil está no seu ponto mais baixo justamente porque sabem que Lula não fará loucuras. Não usará teorias jamais testadas e sim o bom senso, na medida do possível.
O antiintelectualismo é perigoso porque poderá facilmente evoluir e tornar-se um movimento contra a classe média, contra os “com-diploma”, começando com jornalistas e aqueles "que escrevem artigos em jornais", como eu. Aliás, movimento este que já está em curso.
Eliminar intelectuais como na China e Venezuela não é a solução. Substituir aqueles que pararam no tempo como fizeram recentemente a PUC e a FGV é uma forma mais acertada de resgatar a verdadeira função do intelectual.
Toda nação precisa de centenas de milhares de pessoas que analisem seus problemas corretamente e apresentem não dogmas do passado mas soluções para o futuro. Quem irá proteger nossos intelectuais desta onda que toma conta da América Latina?


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STEPHEN KANITZ, consultor de empresas e conferencista, vem realizando seminários em grandes empresas no Brasil e no exterior. Já realizou mais de 500 palestras nos últimos 10 anos.
Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, foi professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Criador do Prêmio Bem Eficiente para entidades sem fins lucrativos e do site www.voluntarios.com.br.
Criador de Melhores e Maiores da Revista Exame, avaliou até 1995 as 1000 maiores empresas do país.
Sua experiência como consultor lhe rendeu vários prêmios: Prêmio ABAMEC Analista Financeiro do Ano, Prêmio JABUTI 1995 - Câmara Brasileira do Livro e o Prêmio ANEFAC.
É árbitro da BOVESPA na Câmara de Arbitragem do Novo Mercado.
Articulista da Revista Veja - Editora Abril.
Criador e organizador do Prêmio Bem Eficiente para entidades sem fins lucrativos e do site www.voluntarios.com.br.
Árbitro da BOVESPA na Câmara de Arbitragem do Novo Mercado. Criador da Edição Melhores e Maiores da Revista Exame. Ex-comentarista econômico da TV Cultura de São Paulo. Assessor do Ministro do Planejamento 1986-1987. "Master in Business Administration" pela Harvard University.
Professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

Livros Publicados:
1- "O Brasil Que Dá Certo" - Makron Books - São Paulo.

2- "Brazil - The Emerging Economic Boom" - Makron Books - São Paulo.

3- "Os 50 Melhores Artigos" - Editora Campus - Rio de Janeiro.

4- "Ponto de Vista" - Editora Senac - São Paulo - Co-autoria.

5- "Como Prever Falências" - Editora McGraw-Hill - São Paulo.

6- "Contabilidade Introdutória" - Editora Atlas - São Paulo - Co-autoria.

7- "Contabilidade Intermediária" - Editora Atlas - São Paulo - Co-autoria.

8- "O Parecer do Auditor" - Editora McGraw Hill - São Paulo.

9- "Controladoria" - Textos e Casos - Editora Pioneira - São Paulo.

10- "Controladoria" - Manual do Professor - Editora Pioneira - São Paulo.

11- "Inflação e Desenvolvimento" - Editora Vozes - São Paulo - Co-autoria.

12- "TPD - Análise dos Demonstrativos financeiros" - IOB - São Paulo.

13- "Práticas de Cidadania" - Editora Contexto - São Paulo - Co-autoria.

Prêmios e Homenagens


Personalidade do Ano 2000 - Sindicato dos Contabilistas de São Paulo
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Prêmio Ateneu Rotário - Rotary Club de São Paulo - 1999.

Prêmio Jabuti 1995 - Câmara Brasileira do Livro.

Prêmio Aquilles 1995 IBRACON - RS.

Prêmio Profissional ANEFAC do ano 1994.

Prêmio Abamec Analista Financeiro do Ano.

Prêmio Abril de Jornalismo - 1983.

Publicações

Artigos da Seção Ponto de Vista da Revista Veja - desde 1998.