26.1.08

O Estado "Hood Robin"

Ao invés de combater a desigualdade, o gasto público no Brasil trata de aprofundá-la

Entre os liberais democratas é pacífico o entendimento de que o aparelho estatal deve limitar sua atuação às chamadas funções clássicas: garantia do Estado do Direito, da proteção dos direitos individuais previstos na ordem constitucional e da defesa da integridade do território nacional. No âmbito das políticas públicas, caberia ao Estado liberal apenas formular e implementar as políticas externa, comercial, monetária e fiscal; além de atuar diretamente na proteção da integridade dos cidadãos e de suas propriedades, oferecendo-lhes segurança pública e jurídica.Estes mesmos liberais por vezes reconhecem ao Estado um papel subsidiário de atuação no domínio econômico: o da correção das chamadas “falhas de mercado”.


Como destacam Gordon Tullock, Arthur Seldon e Gordon Brady em seu excelente livro sobre teoria da escolha pública “Government Failure: A Primer in Public Chioce (Cato Institute, 2002)”, o equilíbrio ideal entre mercado e Estado é matéria controversa. Ainda que a ação estatal seja tolerada como elemento corretivo das falhas decorrentes das escolhas individuais e coletivas (assimetria de informação, racionalidade limitada, mercados incompletos, rigidez de preços, moral hazard , comportamentos free-rider e oportunismo, dentre outras), devem ressalvar-se os casos onde se verifique a ocorrência de “falhas de governo” (rent-seeking, captura, centralismo, dentre muitas outras); e sejam estas ainda mais danosas que as primeiras.


De fato, a compatibilização adequada entre a eficiência alocativa das forças de mercado na criação de riqueza e a pretensa promoção da justiça social através de políticas públicas re-distributivas operadas pelo aparato público-estatal é o desafio fundamental de qualquer estratégia nacional de desenvolvimento. Grosso modo, é a calibragem destes dois sistemas de escolha pública que dá forma ao pacto social tácito que cada sociedade realiza em torno da consecução do seu bem-estar coletivo e do bem-estar individual de seus cidadãos, permitindo-nos classificá-las em modelos diversos de organização política, social, econômica: socialismo, social-democracia, democracia-liberal etc...


No caso brasileiro, tal pacto - de orientação marcadamente social-democrata - entende a intervenção estatal como elemento de restauração da equidade nas relações econômicas e sociais. Uma vez que o mecanismo de mercado aloca recursos de maneira eficiente de acordo com o desempenho competitivo dos indivíduos em um determinado marco institucional, caberia ao Estado considerar as imensas diferenças presentes nas condições iniciais de cada ator social e agir em favor dos retardatários, de modo a equalizá-las. Em suma, o objetivo primordial da ação do Estado seria o de reduzir as desigualdades de oportunidades no início da corrida e promover uma distribuição mais eqüitativa da renda ao longo do percurso quando o livre funcionamento do mecanismo de mercado resultasse em desigualdade de resultados muito pronunciada na linha de chegada.


É possível oferecer críticas a este entendimento: o mercado não produz qualquer desigualdade de resultados, mas revela desigualdade nas condições iniciais ao alocar rendas de acordo com tais diferenças. Todavia, proponho que nos afastemos deste debate para perguntar-nos: o Governo tem considerado este seu “objetivo primordial” quando do desenho e implementação das políticas públicas ? No Brasil, as políticas sociais contribuem para a redução da desigualdade ? Ou, ao menos, pretendem reduzi-la ?


A resposta a esta pergunta é especialmente importante no caso brasileiro por duas razões: (a) tão mais ampla seja captura da renda das famílias pelo Estado, tão maior será sua responsabilidade alocadora, e tão mais sujeita à discricionariedade estatal estará o dispêndio público; e (b) o impacto dos fluxos de renda do Governo é sobre a desigualdade é consideravelmente maior quando da realização da despesa pública do que no recolhimento diferenciado dos tributos.


Uma breve análise do padrão de destinação do gasto público no Brasil autoriza uma afirmativa categórica: o Estado brasileiro é um ator social que atua no sentido de aprofundar a desigualdade, porque gasta mais com quem não precisa e recolhe mais impostos de quem não tem renda.


A chave do problema não é o cobertor curto. O Estado brasileiro despende quase 25% do PIB (entre gastos correntes e investimento) com temas sociais, mas gasta mal e investe pior ainda. A quase totalidade destes desembolsos tem curso forçado. Desde 1987, estão sujeitos à vinculação orçamentária que pretende garantir fontes permanentes de recursos. Ainda assim, os indicadores de impacto de oferta e de resultados do lado dos “usos” não demonstraram melhoria relevante desde então.


As razões deste desempenho sofrível derivam de decisões alocativas equivocadas: priorização deficiente e (des)focalização, além da presença de problemas de desvio de finalidade.


No que diz respeito à hierarquização de prioridades e à focalização, há uma completa “miopia” no atendimento aos que realmente necessitam: crianças e jovens em situação de risco social, trabalhadores informais, estudantes do ensino público e micro-empreendedores. Ainda que seja possível identificar políticas específicas que pretendam equalizar condições iniciais através da transferência direta condicionada de renda (por exemplo, o programa Bolsa Família) ou da oferta de oportunidades de inclusão (como nos programas Primeiro Emprego e Luz para Todos), o marco institucional que orienta o gasto público no Brasil o faz em favor dos que menos precisam.


Mal necessário, o Estado “Robin Hood” social-democrata se converte, às avessas de seu propósito, em Estado “Hood Robin”. Desnecessário, oligárquico e concentrador da renda.


O ânimo deste artigo é evidenciar como tal padrão se instala e se perpetua, desde o desenho das políticas tributária, fiscal e creditícia. E amplifica-se em função do déficit fiscal crescente do Governo.


Impostos: tirando dos pobres para gastar com os ricos


É lugar comum afirmar que a carga tributária brasileira atingiu índices insustentáveis para um país em desenvolvimento como Brasil. Com razão, depois da taxa de juros, os impostos de nacionalidade brasileira mas de tipo sueco são apontados como os principais vilões do baixo crescimento de nossa economia nas últimas décadas. Sua envergadura pode ser atestada pelos sucessivos recordes de arrecadação tributária obtidos, ano a ano, desde 2001.


Contudo, pouca luz é lançada sobre os efeitos distributivos do sistema tributário brasileiro.



Ao contrário do que se supõe a arrecadação apresenta forte regressividade ao longo das diversas classes de renda, especialmente na base da pirâmide social.


Isto ocorre porque mais pobres estão sujeitos aos efeitos de um sistema fortemente baseado em impostos indiretos que incidem sobre a cesta de consumo de um segmento com utilidade marginal da renda comparativamente mais elevada e propensão marginal a consumir sensivelmente maior que a dos segmentos de média e alta renda.


De forma mais simples: os mais pobres comprometem proporção maior de sua renda com consumo. E o Estado tributa-lhes tal consumo em proporção maior do que o faz com o consumo dos mais ricos.


Os números são eloqüentes. Desde 1997, a carga tributária total sobre o consumo cresceu 89%, já descontados os efeitos cumulativos do IPCA. Dez anos depois, carga tributária do tipo indireto expressa como proporção da renda familiar é 3 vezes maior na base (em torno de 47%, para a faixa de renda entre 1-2SM) do que no topo (aproximadamente 16%, para faixas de renda acima de 10 SM).


É preciso reconhecer que a informalidade das fontes de renda nas faixas mais talvez produza um efeito de subestimação dos ingressos totais das primeiras e, por conseguinte, superestime a parcela destinada ao consumo pelo segmento, dando cores mais fortes a uma “divergência distributiva” que talvez não seja tão pronunciada quanto revelam os números. Por outro lado, a tributação sobre o consumo é do tipo indireto e, portanto, não declaratória, não passível de evasão, elisão, planejamento, inadimplemento ou mesmo sonegação, expedientes de “vazamento” da renda total auferida nas faixas mais altas comumente empregados na relação com o Fisco. Ao fim e ao cabo, resulta que a tributação é mais efetiva sobre aqueles que tem menos.


A mesma regressividade tributária experimentada pelos mais pobres reproduz-se junto à classe média, que contribui ao sistema especialmente através da tributação da renda proveniente do salário.


Trata-se do chamado “efeito de gravame”. Ao recolhimento de impostos sobre a renda junto à fonte pagadora somam-se as despesas realizadas pelas famílias na contratação de serviços privados de saúde, educação e segurança incorridas em função da péssima qualidade dos serviços públicos prestados pelo Estado fiscalista, que os cobra universalmente sob a forma de impostos.


Ao gravar os remediados, negando-lhes o provimento adequando das contrapartidas tributárias, o sistema tributário produz, ao nível microeconômico, sensível redução da renda familiar disponível para fins de poupança, dificultando a ascensão social dos filhos da classe média em direção aos estratos mais altos da pirâmide social. E contribui, de modo agregado, para a redução da renda total disponível para financiamento dos investimentos sociais requeridos pelos estratos mais baixos.



Educação: ensino de graça para quem pode pagar


No que diz respeito à educação, a alocação prioritária de recursos no ensino superior em detrimento do ensino fundamental reduze o potencial de superação das desigualdades nas condições iniciais de aprendizado e escolaridade, contribuindo para que a competição futura no mercado resulte em desigualdade de renda ainda mais pronunciada.


Novamente, os números falam por si. No Estado de São Paulo, cada aluno do sistema estadual de ensino superior (formado pela USP, UNESP e Unicamp) recebe R$ 38.000 anuais, enquanto o gasto per capita do ensino fundamental nas escolas municipais do Estado é de R$ 2.400.


Trata-se de uma desigualdade que nos marca desde sempre: o franqueamento gratuito das universidades públicas às elites e à classe média em detrimento de investimentos robustos no ensino público fundamental – que tem como clientes preferenciais os filhos da pobreza.


Mais à frente, tal padrão repete-se quando um jovem proveniente da classe média alta e um jovem egresso das camadas mais pobres da população ingressam no sistema de ensino superior. Novamente, a inversão de prioridades dar-se-á em função de um desenho institucional equivocado, cuja reforma é sistematicamente obstacularizada pela classe média, cujos filhos – inocentes, reconheça-se – beneficiam-se da anomalia.


O sistema de (des)incentivos desenhado às avessas preserva assim seu efeito perverso:


o acesso é competitivo – todavia sem que as desigualdades anteriores entre provenientes do ensino público e do privado sejam consideradas. As tentativas de promover equidade de modo extemporâneo – às portas do sistema de ensino público superior – via de regra desviam-se para questões étnicas que não guardam qualquer correlação com as diferenças de aprendizado adquiridas no ensino médio. O resultado é conhecido: os clientes do sistema são os filhos da classe média. Do desenho institucional equivocado resulta uma brutal seleção adversa.


o financiamento do sistema recai exclusivamente sobre o Estado e – pior – é gratuito para seus beneficiários. As famílias dos clientes tradicionais do sistema ficam dispensadas de formar poupança prévia para financiamento da educação universitária de seus rebentos. As famílias mais pobres utilizam a renda corrente – em geral, complementada com o trabalho dos próprios estudantes – para custear estudos no sistema superior privado. Produz-se uma vez mais transferência de renda na direção inversa: os mais pobres pagam, os mais ricos não.


No caso de carreiras que projetam rendimentos futuros mais elevados (Engenharia, Medicina, Economia e similares), a oferta de cursos gratuitos é preponderamente matutina ou vespertina – impossibilitando a matrícula de jovens provenientes das camadas mais pobres, mesmo que tenham obtido sucesso no funil competitivo de acesso ao sistema superior público. Via de regra, estes jovens necessitam trabalhar durante o dia para financiar estudos noturnos.


Como se não bastassem seus efeitos adversos sobre a distribuição adequada das habilidades básicas para competição no mercado, este desenho institucional “de pernas para ar” lega aos filhos saídos da pobreza uma nova desigualdade de condições iniciais, agora às portas do mercado de trabalho. Sistema que – impessoal e inocente – alocará rendas de acordo com a utilidade das capacidades adquiridas pelos ofertantes no estágio formativo anterior.



Previdência: segurança para os que já tem


O sistema previdenciário é outro mecanismo de aprofundamento da desigualdade brasileira e funda-se em sua dualidade.


De um lado, o regime geral de previdência do INSS combina repartição simples, informalidade crescente, envelhecimento populacional e elevação da expectativa de vida garantindo aposentadoria somente até o teto de contribuição de 10 SM a trabalhadores com baixa escolaridade média, elevada volatilidade de renda e passíveis de demissão. De outro, o regime único de previdência dos servidores públicos presenteia seus eleitos com capitalização integral e formalidade perfeita garantindo aposentadoria integral pelo pico salarial a trabalhadores detentores de alta escolaridade média, progressão exponencial da renda por tempo de serviço e estabilidade no emprego.


Resultado: os 1 milhão de inativos do setor público apropriam 42% dos recursos desembolsados, recebendo benefícios previdenciários em média 12 vezes maiores do que os pagos pelo aos trabalhadores do setor privado. Respondem ainda por 68% do déficit do sistema com um todo. Mesmo entre os servidores públicos inativos, produzem-se imensas desigualdades entre as diversas faixas de contribuição e interpoderes: servidores inativos do Legislativo e do Judiciário recebem, em média, 4 (quatro) vezes mais que seus pares do Poder Executivo.


Pensões e benefícios previdenciários são a evidencia mais viva de padrão preocupante do gasto social brasileiro: quando forçada a uma escolha intergeracional entre destinatários do dispêndio público, a escolha pública tende a privilegiar cidadãos de idade mais avançada, transferindo renda das faixas etárias mais baixas (crianças e adolescentes, sem direito a voto) às mais altas (adultos e idosos, com direito a voto).


Como em todo canto, o sistema político brasileiro produz uma escolha pública em favor das minorias sociais que se fazem em maiorias políticas pela eficiente representação de seus interesses no jogo político. Não se trata de uma jabuticaba política, mas social: o pacto intergeracional que deveria corrigir resultados derivados da assimetria de poderes de agência no campo político, promover a proteção do direito da criança e do adolescente e garantindo a representação de seus interesses em Lei, não se impõe. Falha na tarefa de priorizá-los com alvo preferencial do gasto público em educação e saúde.


Produz-se o discurso, a letra da Lei, mas permanece ausente o recurso.



Crédito Direcionado: dinheiro para quem não precisa


Em qualquer país, o mercado de crédito é um poderoso mecanismo de viabilização de oportunidades de investimento e consumo. Ao transferir recursos disponíveis de poupadores líquidos a investidores e consumidores ávidos por recursos correntes e escassos, este mercado cumpre importante papel por meio do multiplicador bancário, fazendo avançar as fronteiras das possibilidades de produção de uma economia (quer pelo aumento de escala, quer pelo aumento da produtividade) ou aquecendo, ainda que somente no curto prazo, a demanda efetiva.


Desde 2003, o Brasil vêm experimentando uma forte ampliação do crédito, quer seja destinado ao consumo, quer seja destinado à produção. No primeiro caso, destacam-se o crédito popular e as modalidades consignadas para consumo ou para o financiamento imobiliário. No segundo, destaca-se o crédito produtivo direcionado, em especial aquele alocado através das agências e bancos estatais de desenvolvimento, tais como o BNDES.


Desnecessário dizer que o mercado de crédito livre (não-direcionado) tem seu funcionamento regular inibido pela ação governamental. Ao incorrer em déficit primário, o Governo captura boa parte da poupança disponível oferecendo condições privilegiadas aos rentistas: garantia de recompra de um risco soberano remunerado à taxa SELIC, bem acima das taxas de retorno oferecidas por outros ativos de mesmo risco e liquidez. A forte ação price maker do Governo no mercado do crédito priva milhões de potenciais empreendedores de dinheiro farto e barato, puxando para cima o spread bancário e empurrando empreendedores com baixa aversão ao risco para o caro, curto e escasso crédito bancário.


Fosse este o único problema presente, a redução paulatina da taxa de juros real ofertada pelo Governo na rolagem da dívida pública liberaria bilhões de reais a serem capturados pelo “espírito selvagem” dos empreendedores nacionais, ávidos por aplicá-los em novos investimentos produtivos. Todavia, as disfunções espalham-se também pelo crédito produtivo direcionado e pelo crédito consignado para consumo.


Ainda que se reconheça sua propriedade de estabilizar o fluxo de fundos do mercado de crédito como um todo, a porção “direcionada” do crédito produtivo sofre problemas graves de focalização. Seu principal veículo – o BNDES – enfrenta dificuldades persistentes na colocação de crédito produtivo junto às pequenas e médias empresas, em função do desenho do esquema de garantias de seus programas e do desinteresse dos agentes repassadores.


O crédito direcionado pelo BNDES é, sem dúvida, subsidiado. Ainda que as taxas ativas praticadas pelo Banco estejam, em média, 5% a.a acima do seu custo médio de captação – o Banco remunera os depósitos do FAT em 6% a.a – suas operações ativas têm custo menor para o mutuário que o custo de rolagem da dívida pública pelo Tesouro, que tem no BNDES uma de suas subsidiárias integrais. Assim, o BNDES subsidia discricionariamente seus mutuários. Por sua vez, é subsidiado pelo Tesouro. Que, por sua vez, é subsidiado pelo contribuinte.


Caso os recursos direcionados pelo Banco alcançassem seus tomadores preferenciais – quais sejam, os pequenos e médios empreendedores – o subsídio estaria justificado e a desfocalização superada.


Ocorre que a ausência de mecanismos alternativos de garantias produz uma “seleção adversa” de empresas já em estágio produtivo e financeiro avançado, em geral atuantes nos setores industriais mais tradicionais, com capacidade de endividamento externo. Tais empresas formam um grupo de 15 mil tomadores capazes de oferecer 130% de garantia real para as operações de crédito subsidiado realizadas diretamente com o BNDES ou através de seus agentes. Recorrentemente, grandes grupos nacionais vêem seus limites de crédito “esticados” através de alguma engenharia contábil, de modo a permitir ao Banco ampliar seus limites de exposição ao risco corporativo e setorial.


Ao apontar seus recursos para os conglomerados industriais brasileiros e insistir no recebimento de garantias reais do tipo tradicional na ampla maioria de suas operações, o BNDES deixa órfãos uma ampla parcela da economia formal emergente, especialmente os setores mais dinâmicos da economia nacional: o segmento de comércio e de serviços. Faz avançar sem dar-se conta a uma política tipo “Dinners Club”: “precisar não precisa”. E também colabora para o aprofundamento da desigualdade.



Crédito Popular: a mão que dá, também tira...


O falso amanhecer do crédito consignado destinado ao consumo popular é ainda menos ensolarado.


Até junho de 2007, a contratação total de crédito popular alcançou a faixa dos 17 bilhões de reais, com aumento no nível de endividamento geral de R$ 3,5 bilhões em apenas 1 ano. Dados de finais de 2006 dão conta de que, grosso modo, o nível de inadimplência nos empréstimos com desconto em folha para a baixa renda alcançaram o valor de R$ 16,00 para cada R$ 100,00 emprestados, um nível histórico elevadíssimo para este segmento de renda.


A destinação dos empréstimos é ainda mais eloqüente quanto ao grave comprometimento das rendas correntes da população de baixa renda: em média, 52% do total dos novos empréstimos destinam-se ao pagamento de dívidas antigas, 21% alocam-se em empréstimos a familiares, e 29% são gastos com consumo corrente (compra de produtos pessoais e reforma dos domicílios). Avançando para cima na pirâmide social até a classe média, o comprometimento da renda corrente é semelhante. O percentual da renda disponível para poupança pós-consumo saltou de 11% em 1987, para tímidos 4% em 2003.


O leitor perguntará de que forma tal comprometimento de renda das camadas mais pobres relaciona-se como o aprofundamento da desigualdade de renda entre as diversas faixas.


A dinâmica é simples. Para a classe média, o crédito consignado dos aposentados, servidores e trabalhadores da ativa tornou-se um complemento da renda familiar, utilizado preponderantemente para refinanciamento de dívidas antigas e para o consumo corrente e, por esta razão cursado no sistema bancário.


O incremento da renda disponível para segmentos com alta propensão marginal a consumir – quer via aumento do crédito, quer através de programas de transferência direita e condicionada de renda – resulta em aumento da parcela e do valor nominal da renda familiar destinada ao consumo. Tal incremento recebe ainda o incentivo da tendência persistente de queda dos preços dos alimentos e da valorização cambial.


Ocorre que o adicional de renda destinada ao consumo é “dragado” por um sistema de impostos viesado na tributação indireta sobre a cesta de consumo dos mais pobres, “repatriando” a renda transferida via benefícios sociais ou via crédito aos cofres do Estado na forma de impostos. Como se viu, este enxugamento colabora para uma ausência crônica de poupança incremental das famílias, que estaria disponível – de modo agregado – para financiar investimentos produtivos. Sem investimentos não há empregos. Sem empregos, os filhos da classe média decadente tornam-se ainda mais dependentes do crédito consignado de seus pais e avós. O ciclo vicioso se fecha, produzindo como resultado inequívoco o progressivo empobrecimento da classe média e dos menos pobres entre os pobres.



Déficit Fiscal: aprofundando a desigualdade em favor dos mais ricos


Como se não bastasse o padrão do gasto público revelar-se antipobre, o Governo incorre recorrentemente em déficit, emitindo dívida pública para fechar a conta. De janeiro a junho de junho de 2007, o total dos gastos com pagamento dos juros da dívida pública alcançou o incrível montante de 80 bilhões de reais, valor dez vezes maior que o orçamento total destinado ao principal programa social do Governo, o Bolsa Família.


Ao operar cronicamente no vermelho, o Governo eleva o preço de reserva (prêmio de juros) requerido pelos agentes de mercado dispostos a financiar a rolagem da dívida pública, elevando o custo de oportunidade dos poupadores em transferir recursos para investimentos produtivos com taxas de retorno mais baixas. Por outro lado, esteriliza suas rendas no pagamento do serviço da dívida, reduzindo sua capacidade de investimento social, além de transferir rendas em favor de rentistas que em nada contribuem para elevação da produtividade total e para o crescimento de longo prazo.


Ao fazer-se refém de si mesmo, O Governo “gastão” produz um tipo ainda mais trágico de crowding out, uma vez que tolhe sua própria capacidade de preencher o espaço deixado pelo investimento privado. A perda da capacidade estatal de investimento em infra-estrutura inviabiliza a ação do Estado em projetos onde a escala de operação encontra-se abaixo da mínima escala eficiente que despertaria o interesse de concessionários privados. Este tipo de situação ocorre especialmente no atendimento às populações mais pobres das periferias das grandes cidades e no interior. Sem alternativa, as populações marginalizadas procuram obter o provimento de tais serviços através de expedientes informais e ilegais, em geral mais custosos que os regulares. Instala-se o crowding-out promotor de desigualdade.


O grande desafio: para além do tamanho e dos limites de atuação do Estado


Geração após geração, o processo de alocação de recursos escassos operado através da discricionariedade estatal teimou em desenhar políticas, programas e incentivos incapazes de fazê-los chegar aos beneficiários corretos. Via de regra, resultou no franqueamento dos aparelhos públicos em favor de elites políticas, econômicas e corporações. É tarefa urgente romper com este padrão.


A sabedoria popular reconhece que “o diabo não é esperto porque é diabo, mas porque é velho. E seu estratagema principal é convencer aos crédulos que ele não existe”.


O grande desafio dos liberais democratas não reside na batalha em torno da velha discussão acerca dos limites do Estado, porque há muitos crédulos que acreditam que o Estado máximo, não existe.


Nossa verdadeira missão civilizatória nos trópicos é revelar que o Estado brasileiro – porque capturado pelas elites que o controlam e por incapaz de escapar a esta captura face ao seu gigantismo – tem por natureza agir sempre em favor dos que dele não precisam.

Silvério Zebral Filho
Economista e Cientista Político com Diplomado em Economia Social de Mercado na Universidade Miguel de Cervantes (Santiago, Chile). Mestre em Política Internacional pela PUC-Rio, com extensão na Academia Internacional de Lideranças da Universidade das Nações Unidas (Amã, Jordânia). Diretor do PROBUS Consulting Group (licenciado entre 2004 e 2007). Na Universidade Candido Mendes, dirige o Programa de Estudos Interamericanos do Centro de Estudos das Américas. Consultor e observador Internacional da Organização dos Estados Americanos (OEA), International Republican Institute (IRI, EUA), Konrad Adenauer Stiftung (KAS, Alemanha), Organização Democrata Cristã da América (ODCA, Chile) e Instituto Tancredo Neves (ITN-PFL, Brasil).


Aonde Chávez vai, Lula vai atrás

É bom que reflitamos onde queremos que o Brasil chegue

Sempre foi evidente a admiração de Lula da Silva por Hugo Chávez, chamado por nosso presidente de “centro avante matador” e apontado como exemplo de democrata. E se por um lado Lula recebe amavelmente o presidente Bush para churrasco na Granja do Torto, por outro nunca deixou de fazer coro com Chávez contra os Estados Unidos, sobretudo quando de suas idas à Venezuela, como da vez em que esteve naquele país para ajudar o companheiro da boina vermelha em uma de suas intermináveis reeleições.

Chávez dominou o Congresso onde tem maioria. Lula da Silva fez o mesmo sob inspiração do seu então “capitão do time”, José Dirceu, que introduziu o método mensalão como maneira infalível de obter a maioria na Câmara. E se já havia corrupção desde os primórdios de nossa história, nunca antes nesse país comportamentos corruptos foram tão evidentes.

Hugo Chávez dominou o Judiciário. Lula, menos eficiente que o companheiro, também tem submetido à sua vontade o cumprimento da Lei. É estranho, por exemplo, que os assassinatos dos prefeitos Toninho do PT e de Celso Daniel não tenham sido desvendados, e que Bruno Daniel e sua família tenham pedido exílio político na França. Estaremos mesmo numa democracia?

Chávez desenvolveu de modo avantajado o culto de sua personalidade. Duda Mendonça criou personagem, imagem e mito para o petista de forma a fazer inveja a Hitler. E se os meios de comunicação ajudam admiravelmente ou atrapalham a propaganda, Hugo Chávez extinguiu os que não lhe interessavam e criou sua própria TV. Lula tentou no primeiro mandato cercear a liberdade de imprensa e agora terá sua TV, eufemisticamente chamada de TV Pública.

Com o correr do tempo, inevitavelmente, a amizade entre os dois egos descomunais foi se transformando em rivalidade, em que pese a fachada de encantamento recíproco. Afinal, os dois querem ser os reis ou sheiks da América Latina, mas, conforme se sabe, só pode haver um.

A questão é que se tanto um como o outro possui o mesmo apelo populista e a retórica fácil dos falastrões, o ditador de fato da Venezuela tem sido mais ágil, mais esperto, mais arrojado e mais criativo em seus intentos expansionistas.

Chávez tem adeptos fiéis em países latino-americanos, com destaque para Evo Morales, e sabe dominar com seus petrodólares por dentro de cada nação. No próprio Brasil compra escola de samba, implanta círculos bolivarianos, leva brasileiros pobres para fazer operação de catarata na Venezuela.

Acrescente-se que, enquanto o Brasil está com suas Forças Armadas sucateadas, o coronel venezuelano organizou o maior exército da América Latina e se aproximou do Irã por conta dos seus delírios de destruição atômica dos Estados Unidos. Ele conta também com o apoio de grupos paramilitares como as Farc, o MST e, provavelmente, o Sendero Luminoso.

Cresce, pois, a figura sinistra do ditador venezuelano à sombra do nebuloso socialismo do século XXI, rótulo que camufla sua ânsia de perpetuar-se no poder, sempre cultivando os três males que corroem a América Latina e a impedem de se desenvolver: o estatismo, o nacionalismo xenófobo e o populismo.

Porém, nada dura para sempre e Chávez começa a ter revezes. Levou um “no” da maioria dos venezuelanos quando do último plebiscito em que lançaria de vez os meios de não mais deixar o poder. Lula levou seu “não” em pesquisa do Ibope: 65% dos brasileiros não querem o 3º mandato. Mas Lula, que tem sorte, nunca levou um “porque não te calas”, real. Todavia, não faz mais o mesmo sucesso em países europeus.

Chávez, espertamente, armou um palco internacional e negociou com seus comparsas das Farc a libertação de duas reféns. Convidou o Brasil e lá se foi Marco Aurélio Garcia com seu chapéu de panamá, como se fosse o personagem do filme O Canibal. Fracassam as negociações com os sanguinários narcotraficantes. Chávez as retomou, mas sem Marco Aurélio. O intento era claro, desmoralizar Uribe, presidente colombiano. Nesse sentido o ditador pediu que se mudasse a denominação dos celerados guerrilheiros de terroristas para insurgentes, Afinal, coitadinhos, eles só seqüestram, torturam e matam seus prisioneiros, tudo, é claro, em nome do povo. Lula nunca aceitou a denominação de terroristas para os companheiros do Fórum de São Paulo. E não se fez de rogado para visitar na cadeia os seqüestadores de Abílio Diniz, apesar de dizer agora que abomina seqüestros.

Chávez é o sucessor de Castro na América Latina e apareceu em fotos com Fidel Castro quando o ditador cubano estava hospitalizado. No momento, quando a inflação avança, a economia mundial balança, a febre amarela mata mais do que em todo 2007, paira a ameaça de aumento de impostos e do apagão elétrico, pano rápido. Lá se vai Lula da Silva para mais uma viagem: Gautemala, destino Cuba, onde ganhou, como Chávez, seu momento de glória junto ao ditador. Pelo resplendor do rosto do presidente, não se sabe se ele se ajoelhou diante de Castro ou do “paredón” manchado de sangue dos dissidentes cubanos, para entregar ao ídolo 1 bi de dólares, fruto dos suados impostos pagos pelos brasileiros. Será que tal quantia ajudará, pelo menos, a fornecer papel higiênico para o cubanos que não conseguem fugir para os Estados Unidos?

Se aonde Chávez vai, Lula vai atrás, é bom que reflitamos onde queremos que o Brasil chegue.

Maria Lúcia Victor Barbosa
Graduada em Sociologia e Política e Administração Pública pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em Ciência Política pela UnB. É professora da Universidade Estadual de Londrina/PR. Articulista de vários jornais e sites brasileiros. É membro da Academia de Ciências, Artes e Letras de Londrina e premiada na área acadêmica com trabalhos como "Breve Ensaio sobre o Poder" e "A Favor de Nicolau Maquiavel Florentino". Criadora do Departamento de Desenvolvimento Social em sua passagem pela Companhia de Habitação de Londrina. É autora de obras como "O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto: A Ética da Malandragem" e "América Latina: Em Busca do Paraíso Perdido".

25.1.08

A historia de Amon, o afegao

Bom, mas hoje eu queria dividir mais uma historia com vcs. Essa historia tem fim.

Hoje fui ao jantar de confraternizacao do escritorio em que a Lais trabalha.
Estavam reunidos grande parte dos funcionarios do Olympic Collection, um Buffet de festas da alta sociedade californiana. A festa estava animada e a diversidade cultural presente no salao de festas fazia o ambiente parecer mais uma feira internacional do que um confraternizacao de fim de ano. Dentre as nacionalidades ali representadas estavam Franca, Brasil, Iran, Afeganistao, Mexico, Honduras, Rep. Dominicana, Guatemala, El Salvador, Filipinas, Espanha, Estados Unidos, Israel.
A historia de hoje eh um curto trecho da vida de Amon. Um manobrista de 62 anos, nascido e criado no Afeganistao.
Amon eh um senhor simpatico e sempre cheio de piadas. Todas as vezes que passo por ele no estacionamento do Olympic sou recebido com uma chuva piadinhas, principalmente em referencia a Lais: "Veio buscar a chefe? Como eh essa vida de motorista?". Coisas desse tipo. Mas as brincadeiras de Amon nao se parecem com aquelas tipicas dos porteiros brasileiros. Ele nao utiliza nenhum pronome de tratamento para se dirigir a mim e seus gestos e palavras sao, surpreendentemente, elegantes. Digamos que o Sr. Amon tem classe.
Hoje estavamos sentados a mesa, durante a confraternizacao, eu, Lais, tres filipinas, uma iraniana e Amon, representando uma terra que muitos nao conhecem e outros so ouviram falar no pos-Bin Laden. A minha esquerda estava Lais e a minha direita, Amon. Logo comecamos o nosso papo que, entre tacas de vinho tinto, tornou-se uma aula de historia, de vida, de drama, de superacao e de conformacao.
Luiz: "E ai Amon? A quanto tempo vc esta aqui nos EUA?"
Amon: "Ha 29 anos!" Respondeu com uma voz repleta de nostalgia e de algum outro sentimento que eu nao conhecia antes, mas que identifiquei na sua resposta.
"Vc sem importa se eu perguntar o motivo da sua vinda?" perguntei, certo de que pela frente viria uma historia dessas de surpreender.
"O ano era 1979. Ate ai o Afeganistao era uma terra boa. Uma nacao. Eramos desenvolvidos dentro da nossa cultura. Tinhamos dinheiro, luxo, trabalho, profissoes, vidas sociais, mas tb tinhamos os nossos problemas, como qualquer outro pais do mundo. Eu era um Juiz Criminal na capital federal, Cabul. Me formei em Direito ainda novo e logo me tornei juiz. Tudo era como tinha que ser. Normal."
"Mas ai chegou o ano de 1979 e com ele, os comunistas. O Afeganistao foi invadido pela Uniao Sovietica. Nessa invasao nao houve respeito a cultura nem a vida. Homens, mulheres, criancas, velhos. Todos eram apenas Afegaos ao olhar comunista. Nao eram ninguem para os sovieticos. Nesse momento, a minha influencia ajudou. Alguns amigos que haviam se formado comigo na Faculdade de Direito de Cabul e que pertenciam ao Partido Comunista Afegao me avisaram para deixar o pais. Com o apoio deles, deixei para tras a minha vida. E comigo so levei a roupa do corpo, uma mulher gravida e dois filhos pequenos. Eu tinha 34 anos.
A ideia era vir para os EUA encontrar com meu irmao, que era engenheiro aqui a 21 anos. Mal tive tempo de informa-lo que estava vindo. Primeiro precisei fugir do Afeganistao para depois me preocupar com isso. Foi passando pelo Paquistao que pude ligar e avisar. Eu nao tinha dinheiro para mais nada que nao fossem as passagens para os EUA."
"Pouco tempo depois eu estava aqui, na terra da oportunidade, com a roupa do corpo, sem dinheiro, com uma mulher gravida e dois filhos pequenos. Eu nao fui o unico a fugir. Eramos milhoes fugindo dos comunistas. Tres milhoes foram para o Iran. Dois milhoes e meio para o Paquistao e outros inumeros que se dispersaram pelo mundo. Meu sonho era encontrar meu irmao e ganhar tempo para reestabilizar a vida na America. Sem dinheiro e lugar para morar, minha unica esperanca era meu irmao, que poderia me ajudar. Encontrei-o. Eu nao falava uma palavra de ingles. Precisaria estudar antes de comecar a trabalhar, mas sem trabalho eu nao podia sustentar minha familia. Meu irmao era a unica pessoa em que eu podia contar. Mas duas semanas apos eu chegar nos EUA, meu irmao morreu. Nesse momento a minha vida foi destruida."
"Agora eu nao teria mais tempo para estudar. Eu nao tinha mais quem me desse suporte enquanto estudava. Eu nao tinha mais aonde morar. Nao havia mais irmao e com ele se foi o dinheiro, a casa, a oportunidade, o sonho. Tive que arrumar o primeiro emprego que eu pudesse, pois nao havia mais o que comer, da noite para o dia. A primeira oportunidade foi a de manobrista. O salario era de US$200 por mes e com esse dinheiro eu deveria achar um lugar para morar com a minha familia, alimentar 4 bocas, sendo uma gravida e ainda teria que pagar pelo nascimento da minha filha em um pais onde nao existe sistema publico gratuito de saude. Mas se era a unica opcao, teria que ser ela."
"Trabalhei 20 horas por dia para comprar, depois de anos, uma casa a quase 90Km do centro de Los Angeles. Trabalhei incansavelmente para sustentar minha familia. Tudo isso, pq tive que sair fugido do meu pais. Pq tive que deixar para tras o lugar que me deu uma vida, status, dinheiro, respeito. Perdi tudo. Hoje, 29 anos depois que minha vida foi destruida eu tenho uma certeza: a de que meus filhos nao passarao pelo que passei. Todos sao formados e meus netos sao pequenos genios. O mais velho, de 9 anos, sabe mais de computador do que qualquer umm Eh um genio."

Eu fiquei impressionado com a historia de Amon. Estava explicado de onde vinha tanta educacao, tanta classe. Todos os dias eu passo por um juiz e entrego as chaves do carro para ele estacionar.
Fomos interrompidos pelo sorteio das rifas, durante a confraternizacao. Nesse momento, nos empolgamos como duas criancas, torcendo para sermos sorteados e faturarmos o premio que chegava a US$100. Nao foi a nossa noite. A mesa dos mexicanos faturou todas! Ate brincamos que a "mafia" deles tava parecendo ser mais poderosa que a dos judeus (esses sabem fazer dinhiero como ninguem, entao muitos duvidam dessa capacidade e preferem levantar suspeitas).
Quando o tumulto diminuiu, voltamos a conversar e eu estava cada vez mais interessado nas historias daquele lugar em que eu tantas vezes nao compreendi e , portanto, julguei errado.

Durante a aula de historia que Amon, o Juiz Manobrista, me concedeu, entendi muito deste pais e dessa cultura que foi destruida pelos acontecimentos do mundo.
Em 1979, o povo afegao fugiu como louco para todos os cantos do mundo. Mas o primeiro passo de fugir de um pais eh entrar no vizinho. Metade dos refugiados foram para o Iran e outra metade para o Paquistao.
Agora pensem se o povo Argentino se sente ameacado pelo governo de Christina Kirchner e simplesmente dois milhoes e meio de argentinos comecam a correr para o Brasil. Vc deixaria entrar? O governo paquistanes impos uma condicao para a entrada dos refugiados: que os homens adultos e filhos mais velhos fossem lutar na conquista da Cashmira (regiao em disputa entre Pakistao e India). Os filhos mais novos deveriam estudar em escolas especiais de ensino Islamico. Mas o principio dessas escolas nao era estudar e sim criar mais soldados para a guerra da Cashmira. Ali, esses alunos receberam treinamento militar e religioso. Foi feito uma lavagem cerebral para transformarem essas criancas em soldados crueis. Imaginem o exercito perfeito: lutariam com paixao, mas nao eram cidadoes do seu pais. Seria como entrarmos em guerra com a bolivia e botarmos os argentinos na frente de batalha. Mas para convencer uma pessoa de outro pais a lutar pelo seu pais, eh preciso transpor as barreiras fronteirissas. Eh preciso encontrar o ponto comum: a religiao. O extremismo religioso foi implantado na educacao dessas milhares de criancas com o objetivo de criar soldados. E eles foram criados.
Com a queda da Uniao Sovietica, os afegaos que outrora haviam se refugiado, resolveram retornar para o seu pais, mas com eles trouxeram o extremismo religioso que receberam no Pakistao. Assim, esses filhos de refugiados que receberam educacao extremista, ficaram conhecidos como Talibans ( que na lingua arabe significa "estudantes religiosos"). O povo afegao estava fadado a mais um periodo de terror.
As cidades foram destruidas, o sistema educacional virou uma meca de extremistas, o pais virou um grande campo de exterminio.
Nao eh culpa dos Afegaos. Nao eh culpa do Islamismo.
A culpa eh do ser humano.

Depois de um bom tempo de conversa, Amon se levantou e disse: "Com licenca. Preciso ir."
Pos a mao esquerda sobre meu ombro e com a direito segurou a mao da Lais e nos entregou um sorriso de avo. Se virou e saiu pela porta lateral, sozinho.
Naquele momento olhei em seu rosto como se tentando decifrar o que estava passando por sua cabeca. Poderia estar pensando em sua vida antes, nos problemas que enfrentou aqui, em seu pais ou em seu povo. Mas o que vi foi um homem conformado indo embora. Sua expressao era solitaria. De um homem sem nacao e sem povo. Sofrido, mas conformado com a vida que teve.
Amanha eh dia de entregar a chave novamente para o Juiz.

Luiz Dutra
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Curiosidades:

1) "76% do povo Afegao apoiava os EUA antes da invasao comunista. A inacao norte americana aliada ao nitido interesse dos americanos em utilizar o afeganistao como ponto de escoamento de gas e petroleo da regiao para a China e outros paises que mantem relacoes/interesses com os EUA e tb pela sua propria reserva de minerais preciosos do pais fizeram o povo afegao odiar os EUA 110% nos dias atuais. Os americanos dizem que lutam pelos direitos humanos e pela liberdade de inumeros paises, mas quando precisamos eles nao vieram. So quando o interesse surgiu." (Amon)
2) O livro " O cacador de pipas" retrata um pouco dessa historia. Recomendo a todos que leiam o livro antes de ver o filme, pois esse eh muito resumido perto dos detalhes do livro e serve, basicamente, para ajudar a vizualisar essa terra e suas tradicoes de uma forma muito mais dinamica. Mas quem ainda nao leu tb vai apreciar muito o filme. Nao perca a oportunidade de entender e conhecer um pouco mais um pais que foi massacrado desde Alexandre, O Grande.

A historia de Ryan B. Patrick (parte 2)

Recebi varios e-mails em resposta pedindo para que eu contasse o fim da historia. Vergonhosamente venho dizer que nao ha um fim para ela. Sim. Ryan continua nas ruas vendendo suas balas e apanhando do pai quando volta para casa. E nao ha nada que eu possa fazer e nem que vc possa fazer.
O que sei sobre ele eh tanto quanto vcs sabem. Nao sei onde ele mora. Nao sei como encontra-lo e nem quando vou encontra-lo de novo. As vezes o vejo passando distante, forjando um sorriso para agradar um transeunte e, nessas horas, me aperta o coracao. Mas nao ha nada que eu possa fazer por ele. Ja chamei a policia, mas ele fugiu com medo. Ainda assim, os policiais me avisaram que nada poderiam fazer e que eu teria que entrar em contato com o Servico de protecao a crianca e a familia do condado. Mas la eles me exigem todas as informacoes do garoto e eu nao as tenho!
Assim segue Ryan.

A historia de Ryan B. Patrick (parte 1)

Eu trabalho em um restaurante em Venice Beach, em Los Angeles. Aqui eu sirvo mesas. Todo santo dia em que estou trabalhando na praia, vejo dois garotinhos que passam o dia vendendo balinhas na praia.
Os dois sao muito gente boas. Usam toda a maladragem digna de quem passa mais tempo na rua do que em casa para venderem seus doces. Eh quase uma maladragem carioca. Chegam rindo, falando alto, nos fazendo rir e quando vimos ja compramos um saquinho de Skittles. E ai de vc se negar comprar as balinhas! Eles te vaiam mesmo... e todo mundo, num raio de 50 metros compra alguma coisa deles com medo de serem vaiados tb!
Mas as risadas nem sempre estao estampadas em seus rostos. Afinal, quantos de nos sabemos o que eh ter oito anos de idade e acordar as 7 da manha, andar kilometros por dia, subindo e descendo o calcadao da praia de baixo de um sol forte e parmanecer assim fazendo mesmo apos o sol se por e o frio desmedido tomar conta da beira da praia, ate o ultimo doce ser vendido.
As personalidades desses dois meninos sao bem diferentes. Eles sao primos e tem a mesma idade. Oito anos. Um eh magrinho e outro gordinho. Formam uma verdadeira dupla.
Na ultima sexta feira eu estava no restaurante e ja nos preparavamos para fechar as portas, pois o frio era tao grande que ninguem se atrevia a ir jantar a beira do mar a noite. Por volta das 9h da noite, Ryan, o magrinho, entrou no restaurante com sua bandeijinha ainda cheia de doces e me pediu para ajuda-lo comprando um.
Minha cabeca, as vezes, demora um pouco para entender determinadas coisas. Como seria possivel que ele ainda estivesse ali vendendo aquelas balas, no frio, aquela hora da noite, em um dos lugares que ja foi considerado o mais perigoso de Los Angeles?!?
Demorei a acreditar porque nunca imaginei me deparar com essa cena aqui nos EUA. No Brasil, ela ja se tornou tao comum que nem mais nos afeta. Simplesmente nao afeta. Nao parece verdade, ou nao nos atinge, pois eh comum.
Mas aqui? Era muito estranho para ser verdade.
Comecamos entao a conversar. Dei uma limonada para ele e sentamos para conversar. Ele nao parecia ter muitos amigos, uma vez que passava o dia trabalhando e nao brincando.
Eu perguntei pq ele nao ia para casa ja que era tarde demais para uma crianca de oito anos estar andando pelas ruas desacompanhado. Ele me disse que nao poderia enquanto nao terminasse de vender tudo.
"Mas vc nao acha que sera meio dificil a essa hora da noite? Nao ha mais ninguem na praia!". Eu disse.
"Mas meu pai falou que so vai abrir a porta de casa para eu ir dormir se a caixa estiver vazia. E eu ainda tenho 22 pacotes de balinhas para vender."
"Que absurdo" Disse eu, ja pensando em enfiar a porrada no pai dele. "Ele nao pode fazer isso. Va para casa e termine de vender esses amanha. Nao eh culpa sua que tenha chovido hoje a tarde, que o tempo esteja frio e que tenha anoitecido as 4h30 da tarde!"
"Nao posso". Respondeu seco.
"Por que?" Perguntei querendo arrancar dele a resposta sincera/.
"Porque nao posso" Respondeu como quem nao pode falar o motivo.
Olhei bem no fundo do olho dele. Crianca nao sabe mentir. Aquele menininho negro, de olhos espertos, mas tristes, bonito, mas completamente abatido pelo excesso de trabalho, nao coseguia me esconder a verdade. Ou nao queria.
"Nao posso pq meu pai me bate se eu nao vender tudo!"
"Como assim, te bate? Ele te bota para trabalhar e te bate se vc nao vender!?!?! Isso nao ta certo." Eu estava perplexo com aquilo. Alguma coisa nao estava certa. Isso acontecer na casa do Tio Sam!? Isso eh digno das praias do Rio, ou dos sinais de transito de qualquer esquina do Brasil. Nao daqui.
A resposta dele foi uma das coisas que mais me abalou na vida.
Com olhos cheios de lagrimas e com a cara de quem sabe que esta sendo injusticado ele disse:
"Poxa, Luiz, se vc acha mesmo que isso eh errado, me ajuda." Com aquela carinha de quem quer, mas nao sabe como pedir ajuda. Desviando o olhar e com vergonha de falar. Ele completou: "quando vc estiver de folga e eu passar por aqui, me segue que eu te levo ate meu pai e vc pode falar para ele parar de fazer isso comigo!"
Meu Deus. Que noh na minha garganta. Eu nao posso fazer isso. Sei que deveria, mas nao posso. Poderia ate dizer que eu nao tenho nada a ver com isso, mas dormir todas as noites sabendo que aquele garotinho que me faz rir toda segunda-feira-de-mal-humor esta sendo espancado, nao da!
De repende me deu uma angustia! Uma revolta! E a certeza de que eu sou impotente. Vou avisar a policia. Isso vou. Mas o que vai acontecer com ele? Nao sei. O que vai acontecer comigo? Nao sei. O que eh correto fazer? O que eh justo? Nao sei. Mas nos ultimos dias uma vontade insana de fazer o bem veio tomando conta de mim. Preciso fazer o bem. Preciso me dedicar a isso, por um tempo, pq isso nao eh so para ajudar os outros. Eh para me ajudar. Vou tentar curar minha angustia e tentar vencer minha tristeza de fim de ano.
Como essa historia vai acabar, depois eu conto. Mando um outro e-mail para contar-les o final (ou o inicio) da historia de Ryan B. Patrick, 8 anos, americano, negro, trabalhador e muito simpatico.

A crise econômica norte-americana e a recessão no mundo.

Causa e efeitos.

A crise econômica pela qual o mundo vem passando é simples de ser entendida e mais simples ainda de ser resolvida. O problema não esta na economia. Está nas pessoas.

A crise do credito imobiliário norte americano nasceu de um excesso de credito dado à população. Não adianta ter credito e não ter como pagar o saldo devedor mais tarde. Ai, quem não tem dinheiro vai precisar de mais credito para pagar a divida anterior. Agora, já são duas dividas a serem saldadas.

Com o boom do Real Estate (o Mercado Imobiliário norte-americano), milhões de pessoas correram para os bancos para financiar a compra de casas que estavam bem abaixo do valor de mercado, mas ainda acima das condições financeiras de boa parte da população. Isso, por volta da década de 80. Nessa época, a população tinha que pagar o alto preço do financiamento e ainda se virar para pagar todas as dividas criadas em razão do momento consumista do país. Eis que com a baixa inflação do inicio da década de 90, com os baixos juros oferecidos pelo governo americano, a população viu uma oportunidade de refinanciar suas dividas, desta vez podendo juntar todas em uma só.

O problema surge quando os "subprimes", categoria de clientes com altas chances de se tornarem inadimplentes, são empurrados para essa condição por forca do aumento dos juros no inicio deste século. Como os juros aumentaram, a população norte americana se viu estrangulada pelas dividas e só teria uma das duas alternativas: parar de consumir para conseguir pagar a divida do financiamento ou simplesmente parar de pagar o financiamento.

No primeiro caso, com a queda do poder de consumo da população, o país entrou em uma crise pela lei da oferta e da procura. Havia mercadoria demais e consumo de menos. O desemprego aumentou, fabricas fecharam, empresas entram em crise. As pessoas que perderam seus empregos não tinham mais fonte de renda para arcar com suas dividas e tiveram, também, que passar a optar entre não consumir ou não pagar mais o financiamento de suas casas. As empresas que fecharam suas fabricas começaram a passar por dificuldades e tiveram que pegar empréstimos com bancos que estavam com pouco dinheiro disponível, uma vez que grande parte da população não estava mais pagando os juros devidos ao banco.

No segundo caso, quem escolheu parar de pagar o financiamento, teve sua casa hipotecada. Em muitos casos, proprietários já haviam pagado o valor integral da casa, mas não conseguiam arcar com os juros e tiveram que abrir mão da propriedade e entregaram suas casas. Os que perderam suas residências tiveram que voltar para o aluguel. O aumento na procura de imóveis alugados gerou aumento do valor desses alugueis e, conseqüentemente, aumento no custo de vida das pessoas.

As empresas que começaram a sentir dificuldades pela falta de credito disponível nos bancos e começaram a lançar mais ações nas bolsas de valores para arrecadar mais dinheiro. O aumento no numero de ações fez com que houvesse aumento da oferta, mas como o povo não tem dinheiro na mão para investir, não há como comprar as ações. O excesso de ações disponíveis e a falta de liquidez e de volatilidade no mercado, ou seja, a dificuldade em transformar ações em dinheiro e a demora para se conseguir fazer isso, fez com que as bolsas de valores começassem a entrar na crise que antes pertencia apenas ao setor imobiliário.

Com a bolsa de valores do maior mercado do mundo entrando em crise, os negócios internacionais começaram a ser afetados. Os contratos internacionais tiveram que ser renegociados já que não havia disponibilidade de dinheiro. As empresas americanas tornaram-se inadimplentes em seus contratos com empresas estrangeiras. O valor de negociações em bolsas estrangeiras diminuiu, uma vez que os Estados Unidos, o maior investidor do planeta, não tinham capital para mandar para fora do país.

A diminuição na entrada de dólares nos mercados de outros países, como o Brasil, fez com que a economia agisse conforme suas leis: onde há muita oferta e pouca demanda há desestabilização. Faltou dólar na economia de muitos países. Faltaram investimentos. Bolsas estrangeiras caíram. Volumes de negócios caíram. Lucros caíram.

O mundo esta em recessão.

O problema não esta, portanto, na economia. E sim, nos homens. A economia esta funcionando de acordo com suas leis gerais e universais. Nada mudou. O homem que desaprendeu ao forçar os seus limites.


Luiz Filipe C. Dutra

Editor do blog Discutindo Ideias.


16.5.06

ATAQUES DE 13/05/06

Há muito tempo a violência em São Paulo chegou a um ponto caótico. Hoje, o Estado se mostra frágil e inábil perante o crime organizado. Em uma verdadeira operação de milícia, mais de cinqüenta ataques foram feitos contra policias civis e militares, guardas metropolitanos, agentes penintenciários. Execuções covardes e ações bem organizadas marcaram esse banho de sangue ocorrido na madrugada do dia 13 de maio de 2006. Não obstante, ocorre inúmeras rebeliões em diversos presídios tanto na capital quanto no interior do estado.

O que eu me pergunto, no entanto, é quando lutaremos de volta? A suposta “inteligência policial” não mostra resultados concretos. Tudo bem, o líder do PCC está preso. Mas de quê adianta? Mesmo dentro da cadeia ele é capaz de comandar uma rebelião em mais de 20 presídios. Isolá-lo não o impedirá de comandar sua facção. Pessoas como Marcola e Fernandinho Beira-Mar merecem o caixão. Essa escória da sociedade, produto de uma política corrupta, uma economia falida e um fracasso social, não tem salvação. Nem um milhão de anos o sistema carcerário brasileiro conseguiria habilitá-los a viverem em sociedade. Soltá-los é um crime; puní-los, uma obrigação; intimidá-los de todas as formas possíveis, um dever.

Afinal, o quão fácil é fazer um motim? Você queima uns colchões, decepa a cabeça de uns pra jogar futebol, tortura os carcereiros e, quando cansa, volta para a sua cela e deixa o BOPE entrar. Melhor do que isso, é ter a certeza de que aquele lugar será reformado, novos colchões será dados e dali a três meses você estará novamente no mesmo local de antes. Nessas rebeliões de maio de 2006, há ainda um agravante: não há reivindicações. Os marginais apenas decidiram mostrar o seu “poder” perante o estado.

Pois é. Basta! Mudem a Constituição e coloquem o Exército nas ruas. Forcem os presidiários a trabalharem nas penintenciárias. Não sou à favor de uma ditadura, mas convenhamos que algumas de suas ferramentas cairiam como luvas na conjuntura atual: torturem os líderes, seus amigos, suas famílias. A intimidação torna-se uma coisa imprescindível nessa ocasião.

O que eu não suporto mais é ver todo esse tipo de gente inescrupulosa sendo protegida por um grupo de hipócritas do Congresso. Quando os 111 morreram no massacre do Carandiru, lá estava a comissão de Direitos Humanos. Quero vê-la agora, visitando cada família de cada cidadão honesto morto nessa operação. Quero vê-la agora, com que argumentos defenderá os “inocentes” presidiários. Quero vê-la agora, quando 30 mães passarão o “Dia das Mães” sem seus filhos. E agora? A que ponto chegamos?

* Sérgio Martins Pereira

1.5.06

A EXPLORAÇÃO DO CAPITAL - STEPHEN KANITZ

Para gerar 6 milhões de bons empregos, que custam em média 50.000 reais em máquinas e equipamentos, precisaremos de no mínimo 300 bilhões de reais de poupança interna, porque a poupança externa não virá tão cedo. O problema do capitalismo e do socialismo é o mesmo: não dá para investir e consumir ao mesmo tempo. Ou você consome seu salário ou você o investe para o futuro. Investir sempre significa sacrifício. Para gerar poupança interna teremos de apertar ainda mais o cinto, reduzir ainda mais nosso consumo para poder investir em equipamentos e geração de emprego para nossos filhos.

Karl Marx descreve muito bem o enorme sacrifício desumano dos trabalhadores ingleses, que permitiu à Inglaterra ser a primeira potência industrial do mundo. Os Estados Unidos foram mais espertos, trilharam um outro caminho. Eles perceberam que poderiam crescer explorando o capital dos outros, nesse caso, o capital dos ingleses. Tomaram dinheiro emprestado da Inglaterra a juros de 3% ao ano, investiram em máquinas e contrataram milhões de jovens americanos com capital alheio. Ganharam 12% ao ano, pagaram os 3% devidos, e reinvestiram a diferença. Enquanto o capitalismo inglês (e o brasileiro) se apropriava da mais-valia humana, o capitalismo americano se apropriava da mais-valia financeira dos outros.

Os Estados Unidos têm a menor taxa de poupança interna do mundo, algo em torno de 6% do PIB, que não é muito sacrificado, comparado com os nossos 22%. Karl Marx, que não era formado em administração, nunca percebeu esse pequeno detalhe, que modifica radicalmente a sua teoria. Ao banir O Capital do socialismo, Karl Marx perpetuou a exploração do homem pelo homem, o contrário do que queria. O maior país "capitalista" do mundo vive de explorar o capital dos outros, é um "capitalismo" às avessas, justamente o contrário do que ensinam nas nossas escolas. Se nossos jovens aprendessem a pensar, não aceitariam tudo que lhes é ensinado. Ao contrário do que dizem nossos professores, não é o capital americano que explora o mundo, são os americanos que exploram o capital do mundo. Eles captam 500 bilhões de dólares ao ano, todo ano (calcule quantos jovens esse dinheiro empregaria se viesse para o Brasil).

Partidos de direita atraem capital, partidos de esquerda expulsam capital, e como nesta eleição só temos candidatos de esquerda, a poupança do trabalhador inglês, espanhol e italiano já está voltando rapidamente, razão dessa crise toda. O governo brasileiro só em 1967 criou a Resolução 63, permitindo ao setor privado brasileiro finalmente explorar o capital dos outros, via empréstimos externos. Isso permitiu ao Brasil crescer da 46ª para a 9ª economia do mundo (o grande erro dos economistas da época foi assinar empréstimos com juros "flutuantes", que flutuavam após a assinatura do contrato. Deu no que deu, quebramos).

Com a ostensiva moratória da dívida externa de 1987, o plebiscito em que 90% dos brasileiros foram a favor da suspensão do pagamento da dívida, com a nova geração gritando "Fora FMI!", esses empréstimos de doze anos a 3% de juros ao ano rapidamente sumiram, e levarão dez anos para voltar. Hoje, só especuladores que cobram 18% ao ano se arriscam a investir no Brasil com um discurso desses. Após a moratória de 1987 paramos de crescer, e já voltamos a ser a 11ª economia mundial, com desemprego crescente, e se depender de nossos líderes pensantes estamos a caminho da 46ª posição novamente.

Se nossos políticos ouvissem mais nossos milhares de administradores, saberiam como é fácil explorar viúvas ricas do mundo e fundos de pensão de países ricos, que só pedem e só querem 3% ao ano, contanto que não haja risco de calote. Pelo jeito, vamos voltar a explorar nossos jovens via arrocho salarial, aumentando ainda mais os impostos sobre consumo, criando empréstimos compulsórios, únicas formas de gerar poupança interna. Os jovens americanos, ingleses e italianos agradecem.

3.3.06

Estimulando a curiosidade

A imagem “http://www.feirabienaldolivro.com.br/feirabienaldolivro/imagem/boletim/boletim_BIE18_39.jpg” contém erros e não pode ser exibida. Estimulando a curiosidade
"O objetivo final de uma aula deveria ser formar futuros pesquisadores, e não decoradores da matéria"


Durante a estada de Richard Feynman no Brasil � um dos poucos ganhadores do Pr�mio Nobel que o Brasil p�de conhecer de perto �, os alunos pediram a ele que desse uma aula sobre nossos m�todos de ensino na �rea da f�sica. Feynman pegou cinco ou seis livros de f�sica adotados pelo MEC naquela �poca e um m�s depois disse que s� daria aquela aula no �ltimo dia de sua perman�ncia no pa�s.

No dia fat�dico, dezenas de professores de f�sica se reuniram para ouvir sua palestra. Essa hist�ria � contada por ele no livro Deve Ser Brincadeira, Sr. Feynman.

Come�ou assim a palestra: "Triboluminesc�ncia, diz no livro de voc�s, � a propriedade que certas subst�ncias possuem de emitir luz sob atrito". E mostrou como nossos livros apresentavam a mat�ria pronta, incentivavam a decoreba, eram essencialmente chatos e confusos. Isso foi escrito h� trinta anos, mas, pelas queixas dos alunos, nossos livros de f�sica n�o melhoraram tanto quanto deveriam.

Segundo Feynman, um livro americano abordaria a quest�o de forma um pouco diferente. "Pegue um torr�o de a��car e coloque-o no congelador. Acorde �s 3 da manh�, v� at� a cozinha e abra o congelador. Amasse o torr�o de a��car com um alicate e voc� ver� um clar�o azul. Isso se chama triboluminesc�ncia."

Não sei se ficou clara a diferença que Feynman tentava demonstrar, nem sei se os livros did�ticos americanos continuam os mesmos, mas basicamente nossos m�todos de ensino apresentam muita informa��o e teoria em vez de despertar a curiosidade.

Criamos alunos t�o bem informados que no Brasil intelig�ncia virou sin�nimo de erudi��o. Inteligente � quem sabe muito, quem repete as teorias e conclus�es dos outros. Um dia ele poder� at� ter opini�o pr�pria, mas ser� dif�cil se ningu�m estimular sua curiosidade.

Sem d�vida, toda sociedade precisa de pessoas eruditas, aquelas que sabem os caminhos que j� foram percorridos. Erudi��o n�o mostra necessariamente intelig�ncia, mas demonstra que a pessoa tem boa mem�ria.

No mundo moderno, em constante muta��o, intelig�ncia quer dizer outra coisa. Significa enxergar o que os outros (ainda) n�o v�em. Isso � pr�prio de pessoas criativas, pesquisadoras, curiosas, exploradoras, que encontram solu��es para os novos problemas que temos de enfrentar.

O m�todo de ensino eficaz, segundo Feynman, deveria formar indiv�duos curiosos. O objetivo final de uma aula teria de ser formar futuros pesquisadores, e n�o decoradores da mat�ria. O que mais o espantou � que nosso ensino de f�sica e qu�mica � muito superior ao americano, algo que todo brasileiro j� sabe. Mesmo assim, notou Feynman, o Brasil produz menos f�sicos e qu�micos que os Estados Unidos.

A hip�tese que ele levanta � o m�todo de ensino. Damos muita teoria e informa��o, mas ensinamos pouco como usar as informa��es aprendidas. Por sua vez, os americanos sabem e aprendem muito menos teoria, mas devotam mais tempo aprendendo como usar a informa��o apresentada, sob todos os �ngulos.

Suspeito que essa seja a raz�o de nosso p�ssimo desempenho nos testes internacionais administrados pelo Programa Internacional de Avalia��o Estudantil (Pisa), em que o Brasil aparece nas �ltimas coloca��es, inclusive em f�sica. Os testes do Pisa enfatizam mais o uso da informa��o do que a lembran�a da informa��o em si, algo em que o aluno brasileiro se destaca.

O certo seria, talvez, escrever livros "did�ticos" menos did�ticos e mais motivadores, que estimulassem a curiosidade e fossem mais relacionados com a vida futura de nossos alunos. Alguns dos livros que avaliei mal estimulam o aluno a virar a p�gina para o pr�ximo t�pico, muito menos poderiam seduzi-lo a se dedicar ao assunto o resto da vida.

Vamos fazer um simples teste entre 1 000 alunos e descobrir quantos jogaram fora seus livros did�ticos ap�s a formatura e quantos os guardaram como o primeiro volume de uma grande biblioteca sobre o assunto. Isso nos diria quais os livros did�ticos que de fato estimularam nossa curiosidade, o objetivo principal do ensino moderno.

* STEPHEN KANITZ, consultor de empresas e conferencista, vem realizando seminários em grandes empresas no Brasil e no exterior. Já realizou mais de 500 palestras nos últimos 10 anos.
Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, foi professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Criador do Prêmio Bem Eficiente para entidades sem fins lucrativos e do site www.voluntarios.com.br.
Criador de Melhores e Maiores da Revista Exame, avaliou até 1995 as 1000 maiores empresas do país.
Sua experiência como consultor lhe rendeu vários prêmios: Prêmio ABAMECPrêmio JABUTI 1995 - Câmara Brasileira do Livro e o Prêmio ANEFAC.
É árbitro da BOVESPA na Câmara de Arbitragem do Novo Mercado.
Articulista da Revista Veja - Editora Abril.
Criador e organizador do Prêmio Bem Eficiente para entidades sem fins lucrativos e do site www.voluntarios.com.br.
Árbitro da BOVESPA na Câmara de Arbitragem do Novo Mercado. Criador da Edição Melhores e Maiores da Revista Exame. Ex-comentarista econômico da TV Cultura de São Paulo. Assessor do Ministro do Planejamento 1986-1987. "Master in Business Administration" pela Harvard University.
Professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Livros Publicados:
1- "O Brasil Que Dá Certo" - Makron Books - São Paulo. 2- "Brazil - The Emerging Economic Boom" - Makron Books - São Paulo. 3- "Os 50 Melhores Artigos" - Editora Campus - Rio de Janeiro. 4- "Ponto de Vista" - Editora Senac - São Paulo - Co-autoria. 5- "Como Prever Falências" - Editora McGraw-Hill - São Paulo. 6- "Contabilidade Introdutória" - Editora Atlas - São Paulo - Co-autoria. 7- "Contabilidade Intermediária" - Editora Atlas - São Paulo - Co-autoria. 8- "O Parecer do Auditor" - Editora McGraw Hill - São Paulo. 9- "Controladoria" - Textos e Casos - Editora Pioneira - São Paulo. 10- "Controladoria" - Manual do Professor - Editora Pioneira - São Paulo. 11- "Inflação e Desenvolvimento" - Editora Vozes - São Paulo - Co-autoria. 12- "TPD - Análise dos Demonstrativos financeiros" - IOB - São Paulo. 13- "Práticas de Cidadania" - Editora Contexto - São Paulo - Co-autoria. Prêmios e Homenagens
Personalidade do Ano 2000 - Sindicato dos Contabilistas de São Paulo. Prêmio Ateneu Rotário - Rotary Club de São Paulo - 1999. Prêmio Jabuti 1995 - Câmara Brasileira do Livro. Prêmio Aquilles 1995 IBRACON - RS. Prêmio Profissional ANEFAC do ano 1994. Prêmio Abamec Analista Financeiro do Ano. Prêmio Abril de Jornalismo - 1983. Publicações
Artigos da Seção Ponto de Vista da Revista Veja - desde 1998.

Analista Financeiro do Ano,

A onda antiintelectual

A imagem “http://www.feirabienaldolivro.com.br/feirabienaldolivro/imagem/boletim/boletim_BIE18_39.jpg” contém erros e não pode ser exibida.Por que o PT odeia tanto o PSDB se ambos têm o mesmo ideário e adotam os mesmos programas? Por que Lula fala mal de intelectuais, sociólogos, filósofos, antropólogos, historiadores, economistas e jornalistas, justamente aqueles que lhe deram apoio total?
Quando Lula critica as elites, ele se refere à elite intelectual, não à elite empreendedora que no fundo ele admira. Quanto mais o PSDB batia na tecla que Lula não tinha diploma, mais ele subia nas pesquisas eleitorais.
Tudo isto são sintomas de um perigoso antiintelectualismo que cresce na América Latina. A eleição de Hugo Chavez e Ivo Morales mostra o mesmo fenômeno.
O povo latino-americano se cansou do silêncio, da soberba incompetência da sua elite intelectual.
Na China, os intelectuais foram ativamente perseguidos durante a famosa Revolução Cultural. As universidades permaneceram fechadas por praticamente dez anos, para o desespero deles. Hoje, o povo chinês acredita que foi justamente isto que colocou o país no eixo.
"Os intelectuais foram obrigados a fazer algo que nunca fizeram, a trabalhar no campo como nós", disse-me um porteiro de um hotel em Beijing. "Os líderes de hoje são justamente aqueles que por dez anos não foram educados por intelectuais", disse nosso taxista em Xangai. O que dirão quando não houver censura na China?
A história do mundo está repleta de “revoltas das massas”, queimando livros e intelectuais. Nos Estados Unidos, a intelligentsia é extremamente mal vista, razão do ódio generalizado dos intelectuais aos Estados Unidos, país conhecido pela sua visão em prol do pragmatismo e não da teoria.
Fernando Henrique Cardoso era definido pela mídia e pelo próprio PSDB como o primeiro intelectual a ser eleito presidente do Brasil, uma visão elitista e uma descortesia aos ex-presidentes deste país. Todo ser humano, por mais humilde que seja, tem de usar o seu intelecto para desempenhar sua função, desde o porteiro do prédio até o mestre de chão de fábrica.
A classe média, que raramente foi ouvida no governo anterior, votou maciçamente no PT em 2002. O Partido das “Diretas Já” escolherá seu candidato consultando suas bases ou sua elite intelectual? Manterão sua tradição escolhendo o intelectual mais preparado ou mudarão sua imagem escolhendo um “com-diploma” como Aécio Neves ou Geraldo Alckmin, mas que não fazem parte da intelligentsia nacional? A eleição de 2006 não será sobre quem roubou e quem não roubou, como quer o PSDB, mas um embate entre a voz do povo e a visão do intelectual. Quem tem a visão correta do mundo?
Desde 2004 já existe um racha declarado no PSDB entre "os que trabalham e os que escrevem artigos de jornal", dito pelo seu mais destacado governador.
Em vez de medir as chances ou a taxa de rejeição dos dois candidatos, por que não medem a taxa de rejeição ao intelectualismo em geral e confirmam ou não esta mudança de sentimento popular?
A América Latina não está dando uma guinada para esquerda, como temem alguns, é uma perigosa guinada contra a intelligentsia nacional, justamente o contrário.
Tanto é que os investidores internacionais já perceberam isto, e o risco Brasil está no seu ponto mais baixo justamente porque sabem que Lula não fará loucuras. Não usará teorias jamais testadas e sim o bom senso, na medida do possível.
O antiintelectualismo é perigoso porque poderá facilmente evoluir e tornar-se um movimento contra a classe média, contra os “com-diploma”, começando com jornalistas e aqueles "que escrevem artigos em jornais", como eu. Aliás, movimento este que já está em curso.
Eliminar intelectuais como na China e Venezuela não é a solução. Substituir aqueles que pararam no tempo como fizeram recentemente a PUC e a FGV é uma forma mais acertada de resgatar a verdadeira função do intelectual.
Toda nação precisa de centenas de milhares de pessoas que analisem seus problemas corretamente e apresentem não dogmas do passado mas soluções para o futuro. Quem irá proteger nossos intelectuais desta onda que toma conta da América Latina?


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STEPHEN KANITZ, consultor de empresas e conferencista, vem realizando seminários em grandes empresas no Brasil e no exterior. Já realizou mais de 500 palestras nos últimos 10 anos.
Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, foi professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Criador do Prêmio Bem Eficiente para entidades sem fins lucrativos e do site www.voluntarios.com.br.
Criador de Melhores e Maiores da Revista Exame, avaliou até 1995 as 1000 maiores empresas do país.
Sua experiência como consultor lhe rendeu vários prêmios: Prêmio ABAMEC Analista Financeiro do Ano, Prêmio JABUTI 1995 - Câmara Brasileira do Livro e o Prêmio ANEFAC.
É árbitro da BOVESPA na Câmara de Arbitragem do Novo Mercado.
Articulista da Revista Veja - Editora Abril.
Criador e organizador do Prêmio Bem Eficiente para entidades sem fins lucrativos e do site www.voluntarios.com.br.
Árbitro da BOVESPA na Câmara de Arbitragem do Novo Mercado. Criador da Edição Melhores e Maiores da Revista Exame. Ex-comentarista econômico da TV Cultura de São Paulo. Assessor do Ministro do Planejamento 1986-1987. "Master in Business Administration" pela Harvard University.
Professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.

Livros Publicados:
1- "O Brasil Que Dá Certo" - Makron Books - São Paulo.

2- "Brazil - The Emerging Economic Boom" - Makron Books - São Paulo.

3- "Os 50 Melhores Artigos" - Editora Campus - Rio de Janeiro.

4- "Ponto de Vista" - Editora Senac - São Paulo - Co-autoria.

5- "Como Prever Falências" - Editora McGraw-Hill - São Paulo.

6- "Contabilidade Introdutória" - Editora Atlas - São Paulo - Co-autoria.

7- "Contabilidade Intermediária" - Editora Atlas - São Paulo - Co-autoria.

8- "O Parecer do Auditor" - Editora McGraw Hill - São Paulo.

9- "Controladoria" - Textos e Casos - Editora Pioneira - São Paulo.

10- "Controladoria" - Manual do Professor - Editora Pioneira - São Paulo.

11- "Inflação e Desenvolvimento" - Editora Vozes - São Paulo - Co-autoria.

12- "TPD - Análise dos Demonstrativos financeiros" - IOB - São Paulo.

13- "Práticas de Cidadania" - Editora Contexto - São Paulo - Co-autoria.

Prêmios e Homenagens


Personalidade do Ano 2000 - Sindicato dos Contabilistas de São Paulo
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Prêmio Ateneu Rotário - Rotary Club de São Paulo - 1999.

Prêmio Jabuti 1995 - Câmara Brasileira do Livro.

Prêmio Aquilles 1995 IBRACON - RS.

Prêmio Profissional ANEFAC do ano 1994.

Prêmio Abamec Analista Financeiro do Ano.

Prêmio Abril de Jornalismo - 1983.

Publicações

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24.2.06

Estados Unidos - Império do Mal, ou do Bem?



O passado é um farol a iluminar o presente. Para entendermos os acontecimentos de hoje devemos iluminá-los com a sabedoria da História.

Quem é analfabeto em História, como a imensa maioria de intelectuais e jornalistas, por falta de perspectiva para analisar o mundo de hoje disparam asneiras mil que são assimiladas pela população como verdades eternas.

Exemplo do efeito deletério deste tsunami de desinformação é o ódio aos Estados Unidos, que impera em quase todos os países do mundo, principalmente os subdesenvolvidos da América Latrina e do mundo islâmico.

Os Estados Unidos são o país mais bem sucedido de todos os tempos, sob todos os pontos de vista, detentor de quase 300 prêmios Nobel e um PIB de cerca de treze trilhões de dólares. Um assombro! Um operário americano ganha, por hora, mais do que um operário cubano ganha por mês. Padrão de vida é dignidade. Miséria, como em Cuba, é indignidade!

A acusação de "imperialismo" é a maior mentira de todos os tempos, divulgada por Marx em 1848 e deste então repetida por idiotas de todos os calibres. Os Estados Unidos salvaram o mundo em duas guerras mundiais e não incorporaram nem um metro quadrado de território, exceto o "necessário para enterrar nossos mortos", como declarou o General Mark Clark. Realmente imperialista foi a União Soviética, que ocupou, com os tanques, dezenas de países, levando-os todos à falência, depois de escravizar, torturar e assassinar cerca de cem milhões de vítimas. A URSS seguiu, com sucesso, o mandamento de Lênin: "Acuse seus inimigos daquilo que você faz, rotule-os daquilo que você é". Neste diapasão, acusar os Estados Unidos de "imperialistas" não passa de uma tática leninista, que funcionou graças a ignorância e burrice da opinião pública.

Como declarou François Miterrand a Ronald Reagan: "Os Estados Unidos são um país generoso". São o único país do mundo a aceitar imigrantes e conceder-lhes, de pronto, cidadania plena. Ao contrário da União Soviética, que sugou impiedosamente o sangue de dezenas de colônias incorporadas ao seu gigantesco império de 21 milhões de quilômetros quadrados, os Estados Unidos reergueram seus antigos inimigos, como a Alemanha, o Japão, a Itália, hoje entre as nações mais ricas do mundo. Os Estados Unidos, ao contrário da União Soviética, nunca invadiram nenhum país, com pretensões territoriais. Durante a Segunda guerra mundial salvaram também a União Soviética, fornecendo, via Porto de Murmansk, uma quantidade fantástica de ajuda militar, de alimentos e até uniformes, um fato que os comunas preferem ignorar e, cretinamente, têm a petulância de dizer que foram eles que ganharam a Segunda Guerra Mundial.

Quando ocorrem cataclismos, em qualquer país, a ajuda americana é a primeira a chegar, sem alarde. Nunca soube de nenhuma ajuda soviética, pois os vermelhos só mandam tanques, para ocupar, como fizeram na Hungria, na Alemanha Oriental, na Checoslováquia, no Afeganistão. Fizeram de tudo para submeter todo o mundo, e não faltaram traidores, no Brasil, para ajudá-los, em 1935, 1964 e 1968. Esses traidores hoje estão no poder, furtando bilhões de reais como indenizações, por terem tentado entregar o Brasil à sanha dos soviéticos. Mereciam corte marcial!

Os Estados Unidos NÃO são um país guerreiro. Como "polícia" do mundo, envolveram-se em várias guerras, sempre combatendo países totalitários e continuam se armando, pois é perigoso ignorar a hostilidade de tantos países que se preparam para destruir os Estados Unidos, como Irã, Venezuela, Síria, Coréia do Norte e China. A barbárie impera em todos os países totalitários, que só pensam em guerras de conquista.

Pessoas esclarecidas amam ou, pelo menos, admiram os Estados Unidos. No entanto, tanto a opinião pública mundial quanto os nanocéfalos da burritzia brasileira odeiam os Estados Unidos e entoam loas aos bárbaros comunistas que exploraram tantas nações e deixaram, todas elas, em escombros. É isto que desejam para o Brasil?

Analisando o passado podemos decifrar este mistério. Desde priscas eras os humanos se organizaram em tribos ou nações, sempre dominadas por um macho dominante e uma quadrilha repleta de privilégios (nobres, Nomenklatura, políticos, etc.), além da massa ignara, que trabalha, paga impostos e serve de bucha para canhão nas constantes guerras. Desde sempre o barbarismo bélico sempre foi a obsessão de todas as nações totalitárias e teocráticas. O objetivo, conquistar território, é um arquétipo que pode ser traçado desde os bandos de predadores nas savanas africanas.

Enxergando a História como o império das trevas, perceberemos que a pequena luz da democracia (o contrário do totalitarismo) começou a tremeluzir na maravilhosa Grécia Clássica, séculos antes de Cristo. A partir do obscurantismo da Idade Média, quase se apagou, restando as brasas nas mãos dos sábios do Império Bizantino.

Aos poucos a cultura pagã dos gregos, voltada para este mundo e não para um suposto futuro após a morte, voltou a ser cultivada na Europa, enfrentando as máquinas de tortura dos dominicanos e as piras sagradas da Inquisição. O obscurantismo medieval aos poucos foi sendo derrotado por movimentos individualistas, minando as bases do coletivismo religioso, como o Humanismo, a Renascença, o Protestantismo e, finalmente, o Iluminismo, cuja face política é a democracia e a face econômica o capitalismo.

O Iluminismo, que derrotou o absolutismo monárquico e o obscurantismo católico, nasceu na Inglaterra e na França, porém atingiu a maioridade nos Estados Unidos, um país fundado baseado em seus princípios, como o individualismo, a liberdade, a democracia, o capitalismo e a igualdade perante a lei. Acima de tudo, no Estado de Direito, o Império da Lei e não dos machos dominantes.

A adoção dos princípios do Iluminismo resultou no país mais bem sucedido de todos os tempos, dis-pa-ra-do, enquanto outros países, ainda agarrados a religiões atrasadas e coletivistas, tais como o islamismo e o comunismo, só colheram fracassos. Não fora o petróleo, os árabes estariam ainda vivendo sob tendas no deserto, como há milhares de anos, pois acham que tudo que vale à pena saber está no Corão...

Dentro deste contexto, não precisamos procurar explicações profundas e sofisticadas para entender o ódio que praticamente o mundo todo nutre aos Estados Unidos. O motivo é muito simples: inveja! Simplesmente inveja! A inveja é uma doença terrível, que corrói as entranhas dos invejosos que, não sabendo construir, dedicam-se a destruir, como Bin Laden, terroristas e comunistas de todos os gêneros.

A defunta União Soviética tentou igualar-se aos Estados Unidos, não por meio de recompensas, como no capitalismo, mas pelo terror. Fracassou, depois de torturar e assassinar mais de sessenta milhões de vítimas. A China, adotando o capitalismo a prestações, também quer igualar-se aos Estados Unidos. Os países Europeus, no mesmo diapasão, fizeram a comunidade européia de nações (os "Estados Unidos da Europa"). O boçal do Hugo Chávez, que baba de inveja dos Estados Unidos, junto com Lula, Fidel Castro e outros nanocéfalos, querem organizar a República Bolivariana, também com vistas a enfrentar os Estados Unidos. Na melhor das hipóteses, terão o mesmo destino da União Soviética. São tão idiotas que desejam alcançar esse objetivo por meio do socialismo (de fato, comunismo). A inveja não é boa conselheira. Como sentenciou o filósofo George Santayana: quem não conhece a História está condenado a repeti-la



Estátua da Liberdade:



A missão histórica dos Estados Unidos consiste em combater o totalitarismo, difundir a democracia e promover a paz (trocando-a pelo comércio), como simbolizado pela Estátua da Liberdade, presente dos iluministas franceses ao povo dos Estados Unidos. O título original da Estátua da Liberdade era: "A Liberdade iluminando o mundo". A tocha na mão direita simboliza o Iluminismo e a democracia, que deverão ser irradiadas para os sete continentes, representados pelas sete pontas na cabeça da estátua. Com o pé direito a "liberdade" esmaga os grilhões rompidos do absolutismo e do obscurantismo medieval e, finalmente, na mão esquerda, exibe um livro representando o Estado de Direito: leis escritas e consensuais, em vez do arbítrio dos tiranos. O resto, é barabárie.


* Huascar Terra do Valle é ensaísta e advogado. Dedica-se a estudos nas áreas da filosofia, história, arqueologia, linguística, semântica geral, psicologia, psicanálise, cosmogonia, cosmologia, etologia e sociobiologia. É colunista do site Mídia sem Máscara. É autor das obras "Hino à Liberdade" e "Tratado de Economia Profana". Entre seu material inédito, constam as obras "Sociedade da Desconfiança", "Trincheiras do Iluminismo", "A Treatise on Profane Religion", "The Twilight of Gods" e "Jesus, from Abraham to Marx".