3.3.06

Estimulando a curiosidade

A imagem “http://www.feirabienaldolivro.com.br/feirabienaldolivro/imagem/boletim/boletim_BIE18_39.jpg” contém erros e não pode ser exibida. Estimulando a curiosidade
"O objetivo final de uma aula deveria ser formar futuros pesquisadores, e não decoradores da matéria"


Durante a estada de Richard Feynman no Brasil � um dos poucos ganhadores do Pr�mio Nobel que o Brasil p�de conhecer de perto �, os alunos pediram a ele que desse uma aula sobre nossos m�todos de ensino na �rea da f�sica. Feynman pegou cinco ou seis livros de f�sica adotados pelo MEC naquela �poca e um m�s depois disse que s� daria aquela aula no �ltimo dia de sua perman�ncia no pa�s.

No dia fat�dico, dezenas de professores de f�sica se reuniram para ouvir sua palestra. Essa hist�ria � contada por ele no livro Deve Ser Brincadeira, Sr. Feynman.

Come�ou assim a palestra: "Triboluminesc�ncia, diz no livro de voc�s, � a propriedade que certas subst�ncias possuem de emitir luz sob atrito". E mostrou como nossos livros apresentavam a mat�ria pronta, incentivavam a decoreba, eram essencialmente chatos e confusos. Isso foi escrito h� trinta anos, mas, pelas queixas dos alunos, nossos livros de f�sica n�o melhoraram tanto quanto deveriam.

Segundo Feynman, um livro americano abordaria a quest�o de forma um pouco diferente. "Pegue um torr�o de a��car e coloque-o no congelador. Acorde �s 3 da manh�, v� at� a cozinha e abra o congelador. Amasse o torr�o de a��car com um alicate e voc� ver� um clar�o azul. Isso se chama triboluminesc�ncia."

Não sei se ficou clara a diferença que Feynman tentava demonstrar, nem sei se os livros did�ticos americanos continuam os mesmos, mas basicamente nossos m�todos de ensino apresentam muita informa��o e teoria em vez de despertar a curiosidade.

Criamos alunos t�o bem informados que no Brasil intelig�ncia virou sin�nimo de erudi��o. Inteligente � quem sabe muito, quem repete as teorias e conclus�es dos outros. Um dia ele poder� at� ter opini�o pr�pria, mas ser� dif�cil se ningu�m estimular sua curiosidade.

Sem d�vida, toda sociedade precisa de pessoas eruditas, aquelas que sabem os caminhos que j� foram percorridos. Erudi��o n�o mostra necessariamente intelig�ncia, mas demonstra que a pessoa tem boa mem�ria.

No mundo moderno, em constante muta��o, intelig�ncia quer dizer outra coisa. Significa enxergar o que os outros (ainda) n�o v�em. Isso � pr�prio de pessoas criativas, pesquisadoras, curiosas, exploradoras, que encontram solu��es para os novos problemas que temos de enfrentar.

O m�todo de ensino eficaz, segundo Feynman, deveria formar indiv�duos curiosos. O objetivo final de uma aula teria de ser formar futuros pesquisadores, e n�o decoradores da mat�ria. O que mais o espantou � que nosso ensino de f�sica e qu�mica � muito superior ao americano, algo que todo brasileiro j� sabe. Mesmo assim, notou Feynman, o Brasil produz menos f�sicos e qu�micos que os Estados Unidos.

A hip�tese que ele levanta � o m�todo de ensino. Damos muita teoria e informa��o, mas ensinamos pouco como usar as informa��es aprendidas. Por sua vez, os americanos sabem e aprendem muito menos teoria, mas devotam mais tempo aprendendo como usar a informa��o apresentada, sob todos os �ngulos.

Suspeito que essa seja a raz�o de nosso p�ssimo desempenho nos testes internacionais administrados pelo Programa Internacional de Avalia��o Estudantil (Pisa), em que o Brasil aparece nas �ltimas coloca��es, inclusive em f�sica. Os testes do Pisa enfatizam mais o uso da informa��o do que a lembran�a da informa��o em si, algo em que o aluno brasileiro se destaca.

O certo seria, talvez, escrever livros "did�ticos" menos did�ticos e mais motivadores, que estimulassem a curiosidade e fossem mais relacionados com a vida futura de nossos alunos. Alguns dos livros que avaliei mal estimulam o aluno a virar a p�gina para o pr�ximo t�pico, muito menos poderiam seduzi-lo a se dedicar ao assunto o resto da vida.

Vamos fazer um simples teste entre 1 000 alunos e descobrir quantos jogaram fora seus livros did�ticos ap�s a formatura e quantos os guardaram como o primeiro volume de uma grande biblioteca sobre o assunto. Isso nos diria quais os livros did�ticos que de fato estimularam nossa curiosidade, o objetivo principal do ensino moderno.

* STEPHEN KANITZ, consultor de empresas e conferencista, vem realizando seminários em grandes empresas no Brasil e no exterior. Já realizou mais de 500 palestras nos últimos 10 anos.
Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, foi professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Criador do Prêmio Bem Eficiente para entidades sem fins lucrativos e do site www.voluntarios.com.br.
Criador de Melhores e Maiores da Revista Exame, avaliou até 1995 as 1000 maiores empresas do país.
Sua experiência como consultor lhe rendeu vários prêmios: Prêmio ABAMECPrêmio JABUTI 1995 - Câmara Brasileira do Livro e o Prêmio ANEFAC.
É árbitro da BOVESPA na Câmara de Arbitragem do Novo Mercado.
Articulista da Revista Veja - Editora Abril.
Criador e organizador do Prêmio Bem Eficiente para entidades sem fins lucrativos e do site www.voluntarios.com.br.
Árbitro da BOVESPA na Câmara de Arbitragem do Novo Mercado. Criador da Edição Melhores e Maiores da Revista Exame. Ex-comentarista econômico da TV Cultura de São Paulo. Assessor do Ministro do Planejamento 1986-1987. "Master in Business Administration" pela Harvard University.
Professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Livros Publicados:
1- "O Brasil Que Dá Certo" - Makron Books - São Paulo. 2- "Brazil - The Emerging Economic Boom" - Makron Books - São Paulo. 3- "Os 50 Melhores Artigos" - Editora Campus - Rio de Janeiro. 4- "Ponto de Vista" - Editora Senac - São Paulo - Co-autoria. 5- "Como Prever Falências" - Editora McGraw-Hill - São Paulo. 6- "Contabilidade Introdutória" - Editora Atlas - São Paulo - Co-autoria. 7- "Contabilidade Intermediária" - Editora Atlas - São Paulo - Co-autoria. 8- "O Parecer do Auditor" - Editora McGraw Hill - São Paulo. 9- "Controladoria" - Textos e Casos - Editora Pioneira - São Paulo. 10- "Controladoria" - Manual do Professor - Editora Pioneira - São Paulo. 11- "Inflação e Desenvolvimento" - Editora Vozes - São Paulo - Co-autoria. 12- "TPD - Análise dos Demonstrativos financeiros" - IOB - São Paulo. 13- "Práticas de Cidadania" - Editora Contexto - São Paulo - Co-autoria. Prêmios e Homenagens
Personalidade do Ano 2000 - Sindicato dos Contabilistas de São Paulo. Prêmio Ateneu Rotário - Rotary Club de São Paulo - 1999. Prêmio Jabuti 1995 - Câmara Brasileira do Livro. Prêmio Aquilles 1995 IBRACON - RS. Prêmio Profissional ANEFAC do ano 1994. Prêmio Abamec Analista Financeiro do Ano. Prêmio Abril de Jornalismo - 1983. Publicações
Artigos da Seção Ponto de Vista da Revista Veja - desde 1998.

Analista Financeiro do Ano,