28.1.06

A TEORIA AUSTRÍACA DO CICLO ECONÔMICO


1 O Surgimento da Teoria

A teoria austríaca do ciclo econômico surgiu com a obra Theory of Money and Credit (1912) de Ludwig von Mises. Foi a primeira exposição a respeito dos ciclos econômicos estudada pelos economistas que seguiram a linha de pensamento iniciada por Carl Menger, na Áustria. Depois disso, um aluno do Seminário de Economia desenvolvido por von Mises na Câmara de Comércio da Áustria, F. A. von Hayek, deu procedimento ao que seu professor havia esboçado em seu primeiro trabalho. Depois das contribuições de Hayek outros economistas austríacos contribuíram ao estudo dos ciclos, a exemplo de Richard von Strigl em Capital & Production, mas Mises retomou o tema no que viria a ser a sua grande obra, o seu livro Human Action (Ação Humana), publicado em inglês em 1949, porém baseado em um trabalho em alemão, publicado em 1940. Depois disto, o americano Murray N. Rothbard, destacado aluno e seguidor de von Mises, quando este se mudou para os EUA, viria aplicar a teoria austríaca dos ciclos para explicar a grande depressão de 1929 nos EUA em seu clássico America’s Great Depression, de 1963. Atualmente, a tradição austríaca segue com os estudos de vários economistas, onde cumpre sublinhar o trabalho desenvolvido pelo professor Roger Garrison da Universidade de Auburn, no estado do Alabama, EUA.

Feita esta rápida apresentação, salienta-se que o presente capítulo se preocupará em dissertar apenas sobre a contribuição à teoria dos ciclos econômicos feitas por Ludwig von Mises e F. A. Hayek, os precursores da teoria e até hoje seus maiores expoentes.

1.2 Os Elementos da Teoria

A teoria austríaca dos ciclos é uma teoria eminentemente monetária. Mises ligou a teoria da moeda com o estudo do mercado, a catalaxia[1]. Até então a teoria monetária era uma área específica de estudos, praticamente desligada da teoria econômica. Reunindo a teoria da utilidade marginal de Menger, a teoria do capital de Böhm-Bawerk e a teoria da moeda de Wicksell, Mises integrou a teoria monetária dentro deste todo maior, a economia de mercado. Como salienta o próprio Rothbard (2000): “Study of business cycles must be based upon a satisfactory cycle theory.[…] A cycle takes place in the economic world, and therefore usable cycle theory must be integrated with general economic theory”[2].

1.3 O Juro

Ludwig von Mises herdou do austríaco Böhm-Bawerk a contribuição que este fez a respeito do fenômeno do juro (embora tenha percebido que o processo se dava ao inverso do que promulgou Böhm-Bawerk) quando ele derivou que o juro é um fenômeno praxeológico, ou seja, é um fenômeno inerente à ação humana condicionada à preferência temporal. A descoberta de Böhm-Bawerk foi que o fenômeno do juro originário é representado pela diferença de valoração que um indivíduo dá a determinado bem no presente e no futuro. Nas palavras de Mises (1995):

“Juro originário é a relação entre o valor atribuído à satisfação de uma necessidade no futuro imediato e o valor atribuído a sua satisfação em períodos mais distantes do tempo. Manifesta-se na economia de mercado pelo menor valor dos bens futuros em relação aos bens presentes. É uma relação entre preços da mesma mercadoria, e não um preço em si mesmo” (p. 532).

Desta forma, o juro representa um guia dos homens de negócios, no sentido de que ele revela a real preferência dos consumidores se estes estão tendendo a consumir mais bens no presente ou no futuro. Caso o estejam preferindo consumir mais no futuro, o juro tenderá a ser relativamente baixo, e vice-versa, influenciando o grau de investimentos e a estrutura produtiva de uma economia.

1.4 A Expansão Monetária

Para Mises e os economistas da Escola Austríaca o fenômeno do ciclo econômico não pode ocorrer numa economia livre, visto que nela o fenômeno dos juros e dos preços estão permanentemente sinalizando tanto o grau de escassez e utilidade dos bens e serviços, quanto a preferência temporal, que, economicamente, passa a ser representada pela quantidade de poupança disponível. Desta forma, o nível de investimentos, fora os fatores institucionais, está em função da poupança disponível, tendo os juros (preferência temporal) como “medidor” desta disponibilidade.

Assim, Mises inferiu que o fenômeno das flutuações econômicas não poderia ser alegado através de argumentos como a “inerência do sistema de livre mercado”, mas sim, de algo externo a ele.

Posto que o juro é um fenômeno cataláctico e não monetário, Mises percebeu que quem gerava as flutuações econômicas eram os governos e seu banco central, através da expansão monetária.

Um aspecto fundamental da teoria austríaca é que ela não considera a situação de pleno emprego na economia e nem a de equilíbrio. Ela rejeita ambas, e desde Mises, acredita-se que a economia é um processo, marcado pela mudança constante, sendo impossível que ela atinja algum estágio tal como o pleno emprego ou o equilíbrio. Contudo, a teoria austríaca mostra que a economia tende ao equilíbrio, porém, nunca o alcança.

Deste modo, Mises enfatizou que um dos principais instrumentos que o governo dispõe para expandir a oferta de moeda é através da manipulação da taxa de juros, via Banco Central, ou mesmo, pela pura e simples impressão de notas fiduciárias pelas autoridades monetárias, preponderante nos dias de hoje, fenômeno conhecido como "poupança forçada".

1.5 O Ciclo Econômico

Uma vez que o governo baixe as taxas de juros a níveis que não condizem com a oferta real de poupança, as autoridades estarão emitindo sinais para a economia como se o estoque de poupança tivesse aumentado. Assim, o crédito fica mais barato, e este sinal que os juros passam a emitir é um importante orientador do nível de investimento na economia. Com o dinheiro abundante no mercado, graças à queda artificial na taxa de juros promovida pelas autoridades monetárias, os empresários percebem que projetos de investimentos que antes não eram lucrativos, agora passam a ser. Em outras palavras, há uma sensação de que a preferência temporal dos agentes econômicos aumentou, i. e., juros diminuíram.

Neste momento tem-se que a expansão de crédito estimula os homens de negócios a empreenderem novos projetos de investimentos. Ocorre uma ampliação da capacidade produtiva da economia. Por conseqüência, mais fatores de produção são alocados e mais emprego é gerado. É a primeira fase do ciclo econômico, a fase do boom no setor de bens de capital.

Mas uma queda na taxa de juro decorrente de uma expansão do crédito falseia o cálculo empresarial. Embora a quantidade de bens de capital disponíveis não tenha aumentado, o cálculo emprega parâmetros que só seriam utilizáveis se esse aumento tivesse ocorrido. O resultado, portanto, é enganador. Esses cálculos fazem com que alguns projetos pareçam viáveis e exeqüíveis, quando um cálculo correto, baseado numa taxa de juro não deformada pela expansão de crédito, mostraria a sua inviabilidade. Os empresários se lançam na realização desses projetos; a atividade empresarial fica estimulada. Tem início um boom (MISES, 1995, p. 558).

Segundo a teoria austríaca, o primeiro setor da economia a se lançar em novos projetos de investimentos, devido à expansão creditícia, é o de bens de capital. São os projetos de longo prazo (long-term) que, antes da expansão monetária, se mostravam inviáveis. Eles não correspondiam às preferências mais urgentes dos consumidores. Assim, a expansão do crédito provocada pela queda artificial na taxa de juros, provoca, antes de tudo, um estímulo nos setores de bens de capital.

As condições tecnológicas obrigam a que a expansão da produção só tenha início após a expansão das instalações que produzem bens de uma ordem mais afastada dos bens de consumo acabados. Para expandir a produção de calçados, roupas, automóveis, móveis, casas, é preciso, primeiro, expandir a produção de ferro, aço, cobre e outros bens do mesmo gênero (MISES, 1995, p. 564).

Mises coloca a hipótese de que a expansão de crédito tenha se dado de uma só vez, sem repetição. Então, se a expansão monetária consistir de uma única injeção, ele admite que o boom não poderá durar muito tempo e a economia logo volta ao seu nível natural. Neste caso, tem-se que:

Os empresários não conseguem obter os recursos de que necessitam para dar continuidade aos seus projetos. A taxa bruta de juro do mercado aumenta porque a maior demanda por empréstimos não é contrabalançada por um correspondente aumento na quantidade de moeda disponível para empréstimos. Os preços das mercadorias caem porque alguns empresários vendem seus estoques e outros se abstêm de comprar. A atividade empresarial se contrai novamente. A alta termina porque as forças que a provocaram deixaram de atuar. A quantidade adicional de crédito circulante esgotou a sua capacidade de influir sobre os preços e salários. Os preços, os salários e os vários encaixes individuais ajustam-se à nova relação monetária; deslocam-se em direção ao estado final que correspondente a essa nova relação monetária, sem serem desviados por novas injeções de meios fiduciários adicionais (MISES, 1995, p. 558).

Mas, se o governo levar a cabo a expansão de crédito de forma persistente e cada vez mais intensa, o aumento do emprego dos fatores nas indústrias de bens de capital provocará uma maior demanda por trabalho, trazendo consigo um aumento no nível de salários. O aumento dos salários dos trabalhadores das indústrias de bens de capital, bem como o aumento da renda dos próprios donos dos fatores (empresários, fazendeiros, industriais) pressionará para cima a demanda por bens finais (bens de consumo) antes mesmo que estes setores tivessem aumentado a sua produção. Este movimento, por sua vez, pressionará para cima os preços dos bens de consumo finais. É a segunda fase do boom, caracterizada pelo aumento da demanda por bens finais e a correspondente alta destes preços, visto que, como não houve aumento na propensão a poupar, a relação consumo/poupança crescerá.

A terceira fase do ciclo tem início no momento em que o aumento dos gastos em bens de consumo que agora se verifica de maneira cada vez mais forte termina criando um “cabo-de-guerra” entre os setores produtores desses bens e as indústrias, ainda em expansão, de bens de capital.

Esta disputa tem o efeito de aumentar tanto os preços dos bens de capital quanto a taxa de juros e, como as rendas são maiores nos estágios de bens de capital do que nos de bens de consumo (pois a expansão dos primeiros iniciou-se antes que a dos segundos), ocorrerá uma escassez de capital nas industrias cuja expansão somente agora se inicia (IORIO, 1998, p. 148).


Trata-se de uma competição por fundos de empréstimo que está sendo travada em todos os estágios de produção que pressionará as taxas de juros pra cima, provocando uma contração no crédito e no nível de investimentos.

Caso as autoridades monetárias julgarem importante seguir com a expansão desenfreada de moeda, com o intuito de evitar o efeito recessivo, decorrerá que o processo inflacionário se acelerará. Porém, somente até o ponto em que um número cada vez maior de pessoas começa se dar conta da queda do poder aquisitivo da unidade monetária e, por extensão, começam a agir numa busca desesperada por ativos reais, culminando no colapso do sistema monetário. Assim, chega-se a quarta fase do ciclo: a recessão, ou, na pior das hipóteses, caso o governo opte por insistir com a expansão monetária, o colapso do sistema.

Para aqueles que não estão engajados em negócios nem familiarizados com as operações de bolsa de valores, os principais veículos de poupança são a caderneta de poupança, a compra de títulos e de seguro de vida. Todos estes tipos de poupança são prejudicados pela inflação. Assim sendo, desencoraja-se a poupança e incentiva-se o gasto extravagante. A reação final do público, a “fuga para valores reais”, é uma tentativa desesperada de salvar alguma coisa da ruína inevitável (MISES, 1995, p. 554).

A quinta e última fase do ciclo se dá quando a contração econômica ou o colapso do sistema faz com que a taxa de juros reflita a real disponibilidade de poupança da economia, ou seja, exerça o seu papel de indicar a preferência tempo, através das demissões em massa, de projetos inacabados que se revelaram anti-econômicos e de falências em todo o tecido do sistema produtivo.

Segundo a Escola Austríaca, a depressão econômica é o ajuste inevitável que o sistema econômico passa em virtude de um boom econômico promovido artificialmente pelas autoridades monetárias, através da expansão do crédito.

1.6 Considerações Finais

Mises adverte que “a essência da expansão de crédito não é o excesso de investimento; é o investimento no setor errado, isto é, o mau investimento” (1995, p.563).

Costuma-se descrever o boom como um período de excesso de investimento. Entretanto, só é possível haver investimento adicional na medida em que haja uma quantidade adicional disponível de bens de capital. Como, exceção feita à poupança forçada, o período de alta em si não resulta numa restrição, mas, ao contrário, num aumento do consumo, é impossível que por seu intermédio surjam os bens de capital necessários aos novos investimentos (MISES, 1995, p. 563).

Mises ainda diz que numa economia de livre mercado não ocorre o tal fenômeno de superprodução alegado tanto pelos marxistas quanto por Keynes e seus seguidores. A teoria austríaca ensina que se houver alguma mudança nas preferências dos consumidores ou mesmo um aprimoramento tecnológico, se estes não forem seguidos de expansão monetária artificial, o que ocorrerá será uma queda no consumo de determinados bens e um aumento no consumo dos bens em que os consumidores passaram a preferir ou aqueles que as novas invenções tecnológicas disponibilizaram. Mises assume que pode, neste caso, haver alguma quebra de empresas específicas, mas não ocorre o que se entende por crise de superprodução ou depressão generalizada, posto que as perdas de um lado serão contrabalançadas pelos ganhos das empresas que atraíram a demanda dos consumidores.

Diante do exposto, verifica-se que, a teoria austríaca do ciclo econômico é uma teoria do boom artificial e, mostra, para além de qualquer dúvida, que toda e qualquer depressão econômica só pode ser provocada pelas autoridades governamentais, através da expansão do crédito, jamais pelas "livres forças de mercado".

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[1]Catalaxia significa a economia de mercado no sentido mais puro do termo (Mises, 1995).

[2]O estudo dos ciclos econômicos deve ser baseado em uma satisfatória teoria do ciclo.[...] Um ciclo acontece no mundo econômico e, por isto, uma teoria do ciclo útil deve ser integrada com a teoria econômica geral”. (tradução livre do autor).

Referências:

GARRISON, Roger W. Business Cycles: Austrian Approach. Howard Vane and Brian Snowdon, eds. An Encyclopedia of Macroeconomics Aldershot: Edward Elgar, 2002. Disponível em: <http://www.auburn.edu/~garriro/c6abc.htm.>. Acesso em: 15 Jul. 2005.

IORIO, Ubiratan J. Economia e Liberdade: A Escola Austríaca e a Economia Brasileira. 2. ed. (atual. e ampl.). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. 240 p.

MISES, Ludwig von. Ação Humana: Um tratado de Economia. Tradução de Donald Stewart Jr. 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1995. 890 p.

MISES, Ludwig von et al, The Austrian Theory of the Trade Cycle and other essays. Auburn, AL: Ludwig von Mises Institute, 1996. Richard M. (Comp.). Disponível em: <http://www.mises.org/tradcycl.asp.>. Acesso em: 26 Abr. 2005

ROTHBARD, Murray N. America’s Great Depression. Auburn: The Ludwig von Mises Institute, 2000. Disponível em: <http://www.mises.org/rothbard/agd.pdf.>. Acesso em: 02 Mai. 2005.

ROTHBARD, Murray N. O Essencial von Mises. Tradução de Maria Luiza Borges. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympo: Instituto Liberal, 1984. 54 p. (Série Pensamento Liberal, n. 1).

O Governo Ideal

Nunca na história do homem um regime de governo teve respaldo tão absoluto quanto a democracia de massas contemporânea. A crença de que a democracia representativa é a panacéia que soluciona e solucionará todos os problemas do homem já está tão arraigada no subconsciente coletivo que as pessoas que ousam criticá-la são imediatamente rotuladas de reacionários, fascistas, nazistas etc. Como se isso não bastasse, o culto da democracia moderna, nos dias que correm, chegou ao paroxismo da sacralidade. No mundo ocidental atual e nos países de sua órbita, qualquer violação do credo democrático constitui autorização automática para que os autonomeados sacerdotes desse culto invadam os países que assim agirem.

Diante dessa situação, creio que também nunca na história humana foi tão importante que o homem procure responder a uma questão fundamental: qual é o governo ideal?

Acredito que essa indagação não nasce no espírito do homem contemporâneo somente porque ele é o primeiro na história a se deparar com o fenômeno da aceitação quase unânime da democracia de massas como sendo o melhor regime de governo que já existiu na história. Nasce, antes de tudo, da necessidade por assim dizer biológica que o homem tem de ordenar o seu próprio ser, ou, por outras palavras, de governar seu próprio microcosmo individual. De fato, como o homem pode pensar em convívio social se ele não consegue exercer um autocontrole sobre si mesmo? E como ele pode ter um autocontrole sobre si se não procurar entender o que ele é? Meditar sobre seu próprio ser, eis a primeira lição das pessoas que desejam entender o que é o governo.

Essa é a lição dos grandes filósofos da Grécia antiga. Platão e Aristóteles, quando analisaram a questão dos regimes de governo, já haviam meditado antes profundamente sobre o ser, criando seus próprios sistemas filosóficos e baseando-os em três pilares – a metafísica, a teoria do conhecimento e a ética –, três áreas do conhecimento que correspondem, no plano teórico, aos três aspectos essenciais que eles haviam previamente contemplado no homem: o ser, o pensar e o agir. É só num momento muito posterior, portanto, e com muita cautela, que eles investigam os problemas dos regimes de governo. E mesmo quando o fazem, jamais perdem de vista o fato de que existe na natureza humana uma tendência intrínseca à corrupção. Daí a ressalva que fazem de que a democracia degenera em demagogia, a aristocracia em oligarquia, a monarquia em tirania e assim por diante. Ou seja, jamais deixam de reconhecer que existe uma iniludível tensão em qualquer regime de governo e que, portanto, não existe governo perfeito.

Ressalte-se que mesmo quando Platão e Aristóteles refletem sobre os regimes de governo, a ordem que eles seguiram em suas respectivas reflexões foi contemplar a realidade e só depois conceituá-la, de modo que dessa experiência intuitiva pudessem extrair lições de validade universal. O homem moderno, porém, quando quer realizar a mesma empreitada, trilha o caminho inverso. Teoriza primeiro para depois aplicar suas conclusões à realidade. A meu ver, isso ocorre porque os seus referenciais ainda estão todos baralhados pelo racionalismo.

Grosso modo, o racionalismo constituiu um abuso do método dedutivo. Em vez de seguir a ordem tradicional de reflexão, que exige que o homem, antes de querer entender a realidade, entenda a si mesmo por meio da construção de uma metafísica, de uma teoria do conhecimento e da construção de uma ética que lhe permita agir corretamente no mundo, reconhecia, como realidade primeira e fundante do homem a razão. Para os pensadores racionalistas, o fato de o homem ser dotado de razão lhe conferia uma autoridade intelectual inquestionável, e o uso da razão lhe fornecia o poder auto-suficiente de decidir o que é certo ou errado, falso ou verdadeiro por sua própria conta, bastando para tanto que o homem fizesse alguns raciocínios. Partindo dessa postura eles reduziram toda a teoria do conhecimento ao famoso dito de Descartes “penso, logo existo”, ignoraram a metafísica sob a desculpa de que pertencia à teologia, e criaram uma ética pragmática, cujo princípio maior de correção moral era o de que cada um deve guiar-se por sua própria razão.

Ou seja, aprisionaram-se em seus próprios mundos intelectuais, onde entronizaram a razão no lugar tradicionalmente ocupado por Deus, e decretaram que não seria mais necessário contemplar a realidade para, depois, tentar entendê-la. Bastava ao homem usar sua razão, criar sua própria realidade ideal e então, voilà, tudo estava resolvido, seria possível criar o mundo perfeito, à imagem e semelhança do que esses pensadores sonhavam em suas cabeças. Ora, a razão, não pode dar razão de si mesma pois, se ela é uma faculdade humana, por mais superior que se possa concebê-la continuará a ser ipso facto falível.

O resultado disso todos conhecem bem. Surge uma das castas mais arrogantes que a história já conheceu, a dos intelectuais especialistas em criar receitas de mundo. São pessoas privilegiadas, pois têm uma capacidade racional sobre-humana, com poderes demiúrgicos, que lhes permitem conceber e mostrar para todos nós, mortais comuns, qual é mundo e o governo ideal em que nós “temos o direito” de viver. Nos dias de hoje, são eles que continuam a nos dizer que a melhor forma de governo que o homem já concebeu é a democracia representativa.

Ocorre que se analisarmos a história desde a época em que esses intelectuais começaram a ser ouvidos pelos governantes até os dias de hoje, em que eles são os governantes, o mundo só fez piorar. O poder tornou-se cada vez mais centralizado e chegou num patamar em que um só homem detém poder suficiente para destruir toda a terra. As guerras, com seus rastros de violência e destruição, tornaram-se a regra, e a paz, a exceção. A liberdade individual transformou-se num sonho de uma noite de verão de num passado bem distante. A corrupção cultural, moral e espiritual atingiu dimensões inimagináveis. Os ciclos econômicos aceleraram-se de forma nunca vista na história humana. E os exemplos poderiam se multiplicar.

Mas, afinal, há um regime de governo ideal? A meu ver, não pode haver somente um regime de governo ideal. Isso é impossível. A complexidade da natureza humana é inabarcável, e jamais poderá ser enquadrada em apenas uma moldura conceitual previamente criada pela razão humana.

A grande verdade é que a infinita pluralidade de tradições e costumes humanos não pode ser engessada, modificada, podada ou extirpada por modelos teóricos concebidos, por assim dizer, nos laboratórios mentais de pretensos intelectuais, e simplesmente impostos às pessoas de cima para baixo. Sempre que isso ocorreu na história, inevitavelmente houve uma reação revolucionária que restaurou a ordem natural dentro da qual o homem foi criado para viver.

Repito: não existe um regime de governo ideal. Se em minha região os costumes e tradições poderiam fazer com que o regime monárquico funcionasse perfeitamente, em outra e para outro povo, com diferentes costumes e tradições, o sistema tribal poderia ser o melhor. Ainda, em outro lugar a democracia poderia ser a solução ideal. Pode até acontecer de um povo escolher, por livre e espontânea vontade, ser governado por um ditador e sentir-se feliz com ele.

É óbvio que, para qualquer sociedade existir e desenvolver-se, é indispensável que haja alguma espécie de governo que estabeleça, de algum modo, a lei e a ordem no convívio social. Mas é fundamental que as pessoas saibam que entre governo e Estado existe uma diferença inconciliável, como a que existe entre liberdade e escravidão.

Outro fato que já está mais do que demonstrado ao longo da história é que a democracia só funciona em lugares pequenos, relativamente pouco povoados e onde vive gente, como se diz, muito bem de vida e educada. A democracia de massas é o maior embuste do mundo moderno, o disfarce mais bem feito que se descobriu até hoje para manter no poder uma casta de privilegiados que querem apenas viver à custa do trabalho alheio, sempre sob a desculpa de redistribuir a riqueza do próximo para fazer justiça aos mais necessitados.

Outra evidência histórica indiscutível é que toda centralização de poder é perversa e degenerará, sempre, em tirania, oligarquia, demagogia ou em seja lá o que for possível existir de ruim.

Acredito que o arranjo social que mais se aproximaria da ordem natural das coisas seria compostos por pessoas e povos que formariam, por toda a terra, como que uma colcha de retalhos onde cada retalho seria completamente diferente do outro, apesar da proximidade, e sem nenhum controle estatal central. Haveria reinos, cidades-estados, tribos, feudos, e tudo o mais que o inventivo gênio prático do homem pudesse imaginar e criar que possibilitasse uma convivência social harmônica, isto é, que respeitasse, acima de tudo, a vida, a liberdade e a propriedade de cada ser humano. Decerto também haveria tiranias, oligarquias etc, pois o homem não é o mais dócil dos animais.


* Miguel Gustavo Lopes Kfouri

20.1.06

As tragédias de Olga

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WILLIAM WAACK Rio, 06 de setembro de 2004 OPINIÃO O Globo

São quase lugar-comum livros e filmes que romanceiam figuras da História, tornando-as maiores do que o foram em vida. Espantoso no caso do filme “Olga”, baseado em livro do mesmo nome, é que a figura real de Olga Benário foi diminuída, especialmente a tragédia que ela viveu.

Não importa aqui o fato de que as versões romanceadas de Olga Benário baseiam-se em biografia e fatos manipulados (com exageros, omissões e invenções) pela propaganda do extinto Partido Comunista da extinta Alemanha Oriental, preocupada em formar a imagem de uma heroína encaixada na “linha correta” determinada por burocratas frios e medíocres. Todo responsável por versões romanceadas tem o direito de construir como quiser seus personagens, mesmo sabendo que está assumindo distorções criadas por outros.

A Olga que realmente existiu é muito superior à personagem Olga das telas, e nem mesmo um diretor talentoso como Jayme Monjardin conseguiu fugir à armadilha preparada pelo roteiro. O mundo em que a Olga real viveu não era preto-e-branco — ali os vilões nazistas, aqui os mocinhos comunistas. Ao contrário, uma parcela vigorosa de militantes do PC alemão (aliás, os que representavam as melhores tradições intelectuais do partido) já fora expurgada nos anos vinte por se opor ao corrosivo domínio do próprio partido alemão exercido pelos serviços secretos e polícia política soviéticos. Olga, uma militante de precária formação e pouco interesse por teorias, fazia parte do “aparato M”, a estrutura policial interna do PC alemão diretamente comandada por soviéticos. Um dos “expurgados” nas lutas internas, Arthur Ewert, seria, aliás, um dos seus chefes no Rio.

Para milhares de militantes políticos daquela época (mas não só), a “causa” pela qual acreditavam lutar, com maior ou menor dose de romantismo e entusiasmo, teve de ser sacrificada aos interesses e ditames do Partido, e essa foi a primeira tragédia na qual Olga se meteu. Ela jamais duvidou de ordens superiores e jamais as discutiu — ao contrário de Arthur Ewert, que ao lidar com as previsíveis desastradas conseqüências da aventura de Luís Carlos Prestes no Rio, em novembro de 1935, sabia que estava agindo contra a própria consciência (Ewert foi vítima de uma triste ironia da História: levado à loucura pela tortura infligida pela polícia de Getúlio e, sem nunca mais recuperar a consciência, passou os últimos anos de sua vida sendo mencionado como exemplo vivo de martírio, na Alemanha Oriental, pelos colegas de Partido que o haviam feito cair em desgraça).

A segunda tragédia na qual Olga se envolveu foi acreditar na capacidade de liderança, sabedoria política e perícia militar de Luís Carlos Prestes. A extraordinária incompetência do comandante do movimento de 35 está registrada em Moscou em todos os seus fascinantes detalhes — mas a culpa, tiveram de assumir, ou foi atribuída aos subordinados na cadeia de comando, e aos companheiros de Olga que conseguiram escapar da polícia brasileira e foram fuzilados ao retornar à União Soviética.

Os chefes nunca erram, o que talvez explique por que militantes brasileiros, agindo sob as ordens de Prestes (e apoiado por Olga), concordaram em assassinar uma moça inocente, Elza, que o chefe do aparato soviético clandestino no Rio, um agente da polícia política de Stalin, achava que poderia comprometer os “estrangeiros” participando da operação de 35, entre eles a militante alemã — mais uma tragédia.

Nada disso diminui a tragédia pessoal que se abateu sobre Olga, ao ser presa, deportada e entregue à Gestapo. Diante do velho inimigo, ela mostrou a coragem e a conduta que se esperava de militantes disciplinados como ela (suas cartas a Prestes eram primeiro enviadas a Moscou). Por estar presa, talvez Olga não soubesse do destino que Stalin reservara para quase todos seus ex-comandantes, soviéticos e alemães, além de dezenas de camaradas com quem conviveu no célebre Hotel Lux: a morte.

Os soviéticos nem responderam aos pedidos de D. Leocádia, mãe de Prestes, para que tentassem a troca de Olga por algum prisioneiro. Só muito mais tarde soube-se a razão: os soviéticos, naquele mesmo momento (final da década dos trinta), estavam entregando comunistas alemães para a Gestapo, impedindo que Getúlio ficasse sendo o único a mandar comunistas para os braços dos nazistas.

Uma das amigas de Olga, alemã exilada em Moscou, e que estava sendo preparada para substituí-la no Brasil, ainda a encontrou no campo de concentração no qual foi assassinada em 1942 — a amiga de Olga, como dezenas de outros, fizera parte de uma das “entregas” da NKWD (a polícia política soviética) para a Gestapo.

Não sabemos o que Olga teria dito se tivesse vivido para ver o marido e pai de sua filha, apenas dez anos depois, no mesmo palanque do homem que a mandou deportar. Foi a última tragédia envolvendo Olga, o fato de as razões políticas do partido terem feito Prestes, na prática, perdoar em público o algoz de sua mulher.

Aí está o significado atual, a mensagem que as tragédias de Olga trazem para o Brasil de hoje. Não é a mensagem do “ímpeto romântico pelas causas sociais”, deturpada no caso de Olga por máquinas burocráticas que reduziram seus integrantes a meras engrenagens. É o fato de que o princípio da ação é a consciência, a própria consciência, e que a liberdade de cada um, para terminar usando uma frase da grande figura trágica da esquerda alemã, Rosa Luxemburgo, termina onde começa a do próximo.


* WILLIAM WAACK
é um jornalista brasileiro, nascido em São Paulo e formado em Jornalismo pela USP. Cursou também Ciências Políticas, Sociologia e Comunicação na Universidade de Mainz, na Alemanha, e fez mestrado em Relações Internacionais. Tem quatro livros publicados e já venceu duas vezes o Prêmio Esso de Jornalismo: pela cobertura da Guerra do Golfo (1991) e por ter revelado informações sobre a Intentona Comunista de 1935, até então mantidas sob sigilo nos arquivos da antiga KGB em Moscou (1993).
Waack trabalhou em algumas das principais redações do Brasil, como o Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e a revista Veja. Foi editor de Economia, Internacional e Política. Atuou como secretário de redação, editor-chefe, e repórter, função em que ficou durante mais tempo.

Durante 20 anos, William Waack foi correspondente internacional na Alemanha, no Reino Unido, na Rússia e no Oriente Médio. Chegou a cobrir alguns dos principais acontecimentos internacionais nas últimas décadas, como a Guerra Fria, a Revolução no Irã, a derrubada do Muro de Berlim, a desintegração da União Soviética e o ocaso do socialismo na Europa.

Sempre como enviado especial, Waack participou da cobertura de oito conflitos e guerras: seis no Oriente Médio e dois nos Bálcãs. Desde 1996, trabalha para a TV Globo e voltou ao Brasil em 2000. Mais recentemente, tem trabalhado cobrindo crises em países sul-americanos, como a Colômbia e a Argentina, e várias séries especiais de reportagens para o Jornal Nacional, sobre assuntos como privatizações, pirataria e corrupção policial em São Paulo. Apresenta, desde Maio de 2005, também o Jornal da Globo (substituindo Ana Paula Padrão) que deixou a rede para ir para o SBT. Foi enviado aos E.U.A. pra cobrir a eleição que reelegeu Bush filho .E enquanto ele cobria a pré-reeleição de G.W Bush, ele lecionou na Universidade de Nova York. (wikipedia)

Modelo de Estado em Crise

Thomas Korontai


Um choque de democracia, constitucionalismo, capitalismo e liberdade

Após 2005, os números da economia são, senão conflitantes, desconcertantes. A balança externa registra coisa de US$ 44 bilhões de superávit, cerca de US$ 15 bilhões da dívida externa brasileira serão pagos, antecipadamente, aos credores do Clube de Paris. O índice do risco-País chegou aos 300 pontos – nível mais baixo em 15 anos. Do ponto de vista da gestão de caixa, a coisa parece fluir bem. Mas não há como ignorar efeitos de uma dissonância cognitiva, revelada quando se observam outros dados não revelados pela mídia, mas vividos pela maioria dos brasileiros. Senão, vejamos:

• São, em média, cerca de 9 Medidas Provisórias para cada Lei originada no Congresso – afinal, de quem é mesmo o poder legislar?

• Somos extorquidos por uns 70 tipos de tributos, taxas, impostos, contribuições, que somam perto de 41% do PIB. Cerca de 75% da arrecadação geral é do Governo Federal – um dos nós cegos da centralização do modelo de Estado brasileiro.

• Vivemos num inferno trabalhista, a decisão quase sempre é favorável à “parte mais fraca”, independente dela ter ou não razão, basta sua condição...

• A infra-estrutura – estradas, portos, navegação, ferrovias, viação aérea – só dá notícia ruim, não por falta de recursos, pois existem cerca de R$ 26 bilhões parados (ou sumidos?) em vários fundos cujas “contribuições” são obrigatórias. O Estado cobra cada vez mais ferozmente, mas não faz sua obrigação.

• Taxas de juros mais altas do mundo... Segura-se a inflação, porém a economia que se dane.

• Falta de garantia da propriedade, pois se os militantes dos sem terra, sem teto e sem vergonha invadirem sua propriedade, você deve concordar. Afinal, não é a tal “função social” da propriedade?

• Lentidão judiciária – fora o fato de cerca de 40% da legislação ser inconstitucional e de cerca de 60% dos Ministros do STF serem indicados pelo atual presidente da República, dos inúmeros recursos e instâncias processuais, a lentidão se aprofunda cada vez mais numa estrutura que não se moderniza.

• Insegurança física e patrimonial associadas com a impunidade. Se até a polícia se torna vítima da bandidagem, o Iraque parece mais seguro...

• Degradação ampla, geral. Mais que patrimonial, tecnológica, educacional e financeira da população, vemos a degradação moral, a relativização do que é certo e do que é errado, o fim dos valores pelos quais se fundam todas as sociedades de países com solidez institucional, pontos de degradação que se associam na formação de um quadro nada alvissareiro.

Poderia estender a lista ao infinito. Porém, estes poucos pontos já esclarecem que ao se falar em “fundamentos econômicos” devemos separar os fundamentos de caixa dos fundamentos da economia nacional. É preciso liberalizar e desregulamentar a economia. É preciso desburocratizar o País, e o gargalo está na viabilidade política, travada pela estabilidade das verdadeiras elites do Brasil: o funcionalismo público. Temos inúmeros outros gargalos, como o corporativismo de centenas de setores em centenas de atividades. E falam em uma nova Assembléia Constituinte... seria outra colcha de retalhos. Qual a saída?

Passa por um choque de democracia, constitucionalismo, capitalismo e liberdade, que pode ser feito pela substituição constitucional referendada pelo Povo, com texto pronto e pertinente, já que ninguém quer mexer no seu queijo enquanto a maioria está sem queijo, enquanto o País pertence à essa maioria, que afinal, paga as contas disso tudo. E essa nova Constituição deve ser simples, auto-aplicável, principiológica e descentralizante, federalista, municipalista, real garantidora dos direitos naturais individuais, capaz de sanar todas as conseqüência de cada um dos pontos citados, advindos de uma única e grande causa: o centralismo crônico e doentio do modelo de Estado tupiniquim. O Brasil precisa de uma reengenharia de modelo. Urgente!


* Thomas Korontai
Thomas Korontai é agente oficial e consultor especializado em propriedade industrial (www.komarca.com.br), autor de centenas de artigos sobre propriedade intelectual, federalismo e comportamento, publicados em diversos jornais e revistas. Foi fundador e líder de diversas entidades e movimentos, e autor de ações populares de nível federal. Autor dos livros Brasil Confederação (1993 download gratuito em www.federalista.org.br), É Coisa de Maluco...? (1998) e Cara Nova Para o Brasil - Uma Nova Constituição para Uma Nova Federação, a ser lançado em breve. Propõe o federalismo pleno das autonomias estaduais e municipais desde 1991. Fundador e Presidente Nacional do Partido Federalista (em formação) e Presidente do IF Brasil - Instituto Federalista – www.if.org.br - . Reside em Curitiba/PR

Pare de perseguir seus objetivos e comece a atraí-los

Ralph Marston diz que se você está perseguindo uma coisa, isso significa que ela está fugindo de você. Ao invés de ficar perseguindo e correndo atrás de algo, considere o contrário: pense em como atraí-la.

E como atrair algo que está fora do seu alcance? “Mude seus pensamentos e você mudará seu mundo”, escreveu Norman Vincent Peale. A melhor forma é sempre transformar-se na pessoa que atrairia o que você quer, seja dinheiro, sucesso, admiração dos outros ou um grande amor.

Enquanto você insistir em seguir as velhas rotinas, vendo as mesmas pessoas todos os dias, lendo sempre as mesmas revistas e jornais, assistindo os mesmos programas de TV, visitando os mesmos sites, nunca aventurando-se além da sua zona de conforto, você não vai se desenvolver. Vai continuar preso no mesmo círculo vicioso. É uma forma de desperdiçar lentamente a vida, e o pior de tudo é que você sabe disso. Você sente isso!

George Bernard Shaw disse: “Quando era jovem, descobri que nove de cada dez coisas que eu fazia eram um fracasso. Eu não queria ser um fracasso. Então passei a trabalhar 10 vezes mais”.

A preparação nunca é chique ou cheia de glamour. Ela é difícil. É chata e cansativa. Mas é absolutamente essencial. Todo mundo vê o Gustavo Kuerten ganhando campeonatos e milhões de dólares, mas ninguém vê as centenas de horas que ele já passou em quadras, batendo em bolinhas ou sozinho num quarto de hotel. O preço do sucesso é a preparação. Citando Aristóteles: “Somos o que fazemos repetidamente. Logo, a excelência não é um ato, mas um hábito”.

Se a sua vida não está do jeito que você queria que ela estivesse, pare de pensar em como perseguir seus objetivos, e mude o raciocínio: como atraí-los?

Encontre alguma coisa que esteja dando certo na sua vida e tente melhorá-la só um pouquinho. Não é necessário fazer algo grandioso ou revolucionário – basta um simples detalhe, algo que você pode fazer agora mesmo. É o que os japoneses chamam de Kaizen - a melhora contínua, passo a passo.

Torne-se uma pessoa mais atraente todos os dias - intelectualmente, culturalmente, fisicamente, espiritualmente e, talvez o principal, pessoalmente -, e com certeza você vai conseguir atingir coisas que parecem estar sempre fugindo, simplesmente porque elas vão parar de fugir, vindo até você. Mude seus pensamentos, e certamente você mudará seus resultados.

por Raúl Candeloro

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Raúl Candeloro (www.raulcandeloro.com.br), é palestrante e editor da revista VendaMais®, além de autor dos livros Venda Mais e Negócio Fechado e responsável pelo site VendaMais® (www.vendamais.com.br).

O desemprego e a destruição dos sonhos

“... Não é o desemprego em si que é nefasto, mas o sofrimento que ele gera. ... Um desempregado, hoje, não é mais objeto de marginalização provisória, ocasional, ele está às voltas com uma implosão geral....”

[1]“... O desemprego não é uma estatística abstrata, um número apenas, o desemprego tem cara, rosto, família e RG. Ele está por toda parte. Cada vez mais presente em nossas famílias, mesmo entre os quais jamais imaginávamos... O emprego é a única porta de entrada para a cidadania em uma sociedade capitalista e urbanizada...” [2]

Os escritores sempre nos informam sobre as situações que os apavoram ( O FIM DOS EMPREGOS, UM MUNDO SEM EMPREGOS, O FUTURO DOS EMPREGOS, EM BUSCA DO EMPREGO, O HORROR ECONÔMICO, entre outros), e nada mais apavorante do que um enorme exército mundial de excluídos (desempregados, subempregados, miseráveis), representando grande parte da população economicamente ativa do planeta. Analisar o desemprego é, antes de tudo, lidar com sonhos, expectativas e zonas de conforto dos seres humanos. Quando procuramos explicar o fenômeno, colocamos a culpa em forças maiores, como a tecnologia, a automação, a baixa qualidade técnica da mão-de-obra, a baixa escolaridade dos trabalhadores, a globalização e a eliminação das vagas dos setores agrícola e industrial.

Há alguns anos, quando se perguntava a um jovem, prestes a terminar o 2º grau (que ingressaria ou não em uma universidade), onde ele pretendia trabalhar, a resposta, na maioria das vezes, era “em um banco”. Para os que cursavam os colégios técnicos, a resposta era trabalhar na indústria, de preferência, a automobilística .Hoje, se fizermos a mesma pergunta, poucos jovens terão uma resposta tão rápida. Os jovens, na faixa etária de 14 e 25 anos, convivem com alarmantes índices de desemprego e suas referências anteriores, os setores bancário e industrial, eliminaram muitas das oportunidades de trabalho.

Há pouco mais de dez anos, surgiu o chamado “desemprego estrutural”, levando para a mesma fila de candidatos a um emprego, tanto o jovem que ingressa no mercado de trabalho, quanto o ex-bancário ou ex-industriário, hoje um adulto, que construiu toda a sua vida baseada na expectativa de emprego e salários fixos, com sua carreira condicionada às oportunidades que a empresa lhe daria. De lá para cá, muitos profissionais se formaram, mas, poucos conseguiram acompanhar as mudanças do mundo globalizado. O bancário virou vendedor, o advogado trabalha em escritórios de cobrança, o administrador faz telemarketing, o engenheiro gerencia restaurantes, o torneiro mecânico agora é perueiro e o analista de sistemas, hoje é instrutor de informática. Mas, como no passado, nossas universidades continuam formando economistas, administradores, advogados, engenheiros e analistas de sistemas. As universidades não preparam os jovens para uma nova realidade do mundo sem empregos, um mundo composto por ocupações – pessoas trabalhando em projetos dentro ou fora de sua área de formação.

Estamos vivendo o começo de uma década que carrega muitas incertezas sobre o que poderá acontecer. A pergunta que inicia o milênio é se devemos optar por um modelo trabalhista que garanta as conquistas dos trabalhadores e ofereça segurança, ou por um modelo que crie mais vagas, mas com menos segurança. Para não ter de responder a essa cruel pergunta, é necessário promover o crescimento econômico, pois somente ele será capaz de gerar empregos, sem, é claro deixar de investir em DESENVOLVIMENTO – EDUCAÇÃO – ÉTICA. É realmente necessário educar o trabalhador para que a mão-de-obra seja qualificada e mais bem remunerada. Além disso, é preciso setores que proporcionem emprego e renda, como, por exemplo, o turismo e as pequenas e médias empresas, responsáveis por um em cada cinco empregos gerados.

Devemos criar uma legislação trabalhista flexível, que permita contratar os jovens estudantes por tempo parcial, diminua a carga tributária das empresas e proteja o meio ambiente. Precisamos devolver às pessoas o direito de sonhar com um futuro, até como forma de não encontrarmos, nos próximos anos, jovens sem nenhum tipo de esperança.. Estes serão os adultos de amanhã. Ademais, os problemas financeiros crescem dia após dia. Crianças não sabem responder à pergunta: O QUE VOCÊ VAI SER QUANDO CRESCER? Devemos, como já falamos, investir nossas forças em Desenvolvimento – Educação – Ética, para que nossas crianças não respondam: serei um DESEMPREGADO.

Notas:
[1] Viviane Forester - O Horror Econômico
[2] Aloisio Mercadante - Carta Aos Inempregáveis

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Renê Fernando Cardoso – Administrador de Empresas – Pós Graduado em Administração de Recursos Humanos - Consultor do Núcleo de Aperfeiçoamento de Vendas ( Nuclave ) – Autor do livro Empregue-Se / Como Obter, Manter Ou Aumentar A Sua Empregabilidade - Ed. Edicta.
E-Mail : Rfcardoso@Fazenda.Sp.Gov.Br